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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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Pela mediação da linguagem como “terceiro universo” entre o real e a<br />

consciência, temos um pivô que <strong>de</strong>fine as relações do homem com o real. Como<br />

sistema padrão organizado culturalmente, cada linguagem nos faz perceber o real<br />

<strong>de</strong> forma diferenciada, organizando nosso pensamento e constituindo nossa<br />

consciência. A mediação do mundo pelo signo não se faz sem profundas<br />

modificações na consciência, visto que cada sistema padrão <strong>de</strong> linguagem nos<br />

impõe suas normas, cânones, ora enrijecendo, ora liberando a consciência, ora<br />

colocando a sua sintaxe como moldura que se interpõe entre nós e o mundo real.<br />

A expressão <strong>de</strong> nossos pensamentos é circunscrita pelas limitações da<br />

linguagem. Ao povoar o mundo <strong>de</strong> signos, dá-se um sentido ao mundo, o homem<br />

educa o mundo e é educado por ele, o homem pensa com os signos e é pensado<br />

pelos signos, a natureza se faz paisagem e o mundo uma “floresta <strong>de</strong> símbolos”.<br />

Ou como diz J. Rans<strong>de</strong>ll: “O homem propõe, o signo dispõe” (PLAZA, 1987, p.<br />

19).<br />

Diferentes linguagens possuem formas distintas <strong>de</strong> permitir a expressão <strong>de</strong><br />

nossos pensamentos, influindo diretamente sobre eles e sendo por eles influenciada. A<br />

linguagem literária e a música, aqui concebida como linguagem, ou seja, como padrão<br />

organizado culturalmente que permite a expressão <strong>de</strong> nossos pensamentos, sejam eles a<br />

tradução <strong>de</strong> um sentimento, <strong>de</strong> uma imagem, ou qualquer outra representação que serve<br />

como signo, são a matéria-prima da canção. Códigos, formas e convenções próprias da<br />

literatura e da música são <strong>de</strong>terminantes dos processos <strong>de</strong> criação e das formas artísticas<br />

que eles possibilitam.<br />

A primeira instância <strong>de</strong> tradução da canção consiste no próprio poema como<br />

tradução <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong> um pensamento que reflete o mundo das coisas, a relação do<br />

homem com o real. O poeta francês Paul Valéry 17 , cujas i<strong>de</strong>ias foram brilhantemente<br />

comentadas por Haroldo <strong>de</strong> Campos no texto Paul Valéry e a poética da tradução, nos<br />

fala, com proprieda<strong>de</strong>, do poeta como um tradutor e da inexatidão inerente a essa tarefa da<br />

tradução.<br />

Para Valéry (apud Campos, 1985, p.3), “escrever o que quer que seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

momento em que o ato <strong>de</strong> escrever exige reflexão (...) é um trabalho <strong>de</strong> tradução<br />

exatamente comparável àquele que opera a transmutação <strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> uma língua em<br />

outra”. Para o autor, o poeta é “uma espécie singular <strong>de</strong> tradutor”.<br />

Uma pessoa que faz versos, suspensa entre seu belo i<strong>de</strong>al e seu nada, está neste<br />

estado <strong>de</strong> expectação ativa e interrogativa que a torna única e exclusivamente<br />

sensível às formas e às palavras que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo, retomada como se<br />

representada <strong>de</strong> modo in<strong>de</strong>finido, requer, <strong>de</strong>mandando perante uma incógnita,<br />

aos recursos latentes <strong>de</strong> sua organização <strong>de</strong> falante, - enquanto não sei que força<br />

17 As i<strong>de</strong>ias do poeta francês Paul Valéry sobre tradução encontram-se em seu texto introdutório para suas<br />

traduções das Bucólicas <strong>de</strong> Virgílio, <strong>de</strong> 1944. Suas i<strong>de</strong>ias são comentadas por Haroldo <strong>de</strong> Campos em seu<br />

texto Paul Valéry e a poética da tradução, do qual retiramos as citações <strong>de</strong> Valéry.<br />

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