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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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concentrava principalmente na materialida<strong>de</strong> da linguagem. Kristeva procurava <strong>de</strong>monstrar<br />

que, enquanto a lógica da função comunicativa podia ser incluída em procedimentos<br />

científicos convencionais, geralmente usados para eliminar a contradição, a base material<br />

da linguagem não po<strong>de</strong>ria ser explicada <strong>de</strong>ntro da estrutura <strong>de</strong> uma lógica científica tão<br />

convencional. A linguagem poética seria, para Kristeva, como a encarnação da<br />

materialida<strong>de</strong> da linguagem. Kristeva atribui à linguagem poética uma natureza<br />

fundamentalmente heterogênea, e que por isso <strong>de</strong>safia a forma homogênea, comumente<br />

aceita, da linguagem concebida unicamente como um veículo <strong>de</strong> sentido e comunicação.<br />

Segundo a autora, a linguagem poética rompe o sentido ou pelo menos abre o caminho<br />

para um espectro <strong>de</strong> novos sentidos e, até mesmo, para novos modos <strong>de</strong> compreensão (Cf.<br />

Lechte, 2002, p.163).<br />

O poeta é como um tradutor das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> seus pensamentos. Valéry antecipa<br />

<strong>de</strong> forma exemplar as i<strong>de</strong>ias cunhadas nos anos setenta sobre a materialida<strong>de</strong> da linguagem<br />

quando propõe que esta não é ape<strong>nas</strong> veículo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> conteúdo, mas que age<br />

“por sua forma”. Como criar sentido através <strong>de</strong>ssa dimensão da linguagem? Esta seria uma<br />

questão importante a ser por nós enfocada.<br />

As i<strong>de</strong>ias do linguista dinamarquês Louis Hjelmslev nos auxiliam a obter<br />

algumas respostas. Para Hjelmslev, uma língua (e em geral todo sistema semiótico)<br />

consiste em um plano <strong>de</strong> expressão e um plano <strong>de</strong> conteúdo. Em linhas muito gerais, o<br />

plano do conteúdo representa aquilo que é comunicado e o plano da expressão, o meio pelo<br />

qual se dá a comunicação. 22 Cada um dos planos consiste em forma e substância e ambos<br />

são resultado <strong>de</strong> um continuum ou matéria pré-linguística (Cf. Eco, 2007, p. 41-63). 23<br />

22 Citamos os níveis <strong>de</strong> Hjelmslev nesta tese com fins <strong>de</strong> uma classificação didática, o que não implicará,<br />

absolutamente, que não possa haver um caráter expressivo nos níveis <strong>de</strong> conteúdo, assim como não haja<br />

conteúdo nos níveis da expressão. O pensamento transdisciplinar e as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> re<strong>de</strong> que nos guiam<br />

<strong>de</strong>sestruturam as classificações duais, uma vez que prevêm as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conexões entre os diversos<br />

elementos, como veremos no prosseguimento <strong>de</strong>sta tese.<br />

23 No plano do conteúdo, encontra-se o universo dos conceitos exprimíveis por uma língua, tudo que é<br />

pensável, classificável. Cada língua subdivi<strong>de</strong> o continuum <strong>de</strong> modo diverso. O conceito expresso pela<br />

palavra sauda<strong>de</strong>, por exemplo, só se traduz parcialmente comparando-se outros conceitos expressos, por<br />

exemplo, pela palavra alemã Sensucht ou inglesa yearning.<br />

A forma do conteúdo consiste <strong>nas</strong> palavras ou termos linguísticos e <strong>nas</strong> frases ou manifestações lineares.<br />

A substância do conteúdo refere-se ao sentido que a palavra assume no processo <strong>de</strong> enunciação. O sentido do<br />

enunciado po<strong>de</strong> ser literal ou um sentido correlacionado ao que Eco chama <strong>de</strong> “mundos possíveis”. Assim, a<br />

palavra manga po<strong>de</strong> ter vários sentidos, mas na frase a menina come uma manga, imaginamos que manga é<br />

uma fruta. Num texto po<strong>de</strong>mos apreen<strong>de</strong>r vários níveis <strong>de</strong> sentido: psicológico, histórico, i<strong>de</strong>ológico, etc.<br />

Em uma língua natural, a forma da expressão seleciona alguns elementos pertinentes no continuum ou<br />

matéria <strong>de</strong> todas as possíveis fonações. A forma da expressão consiste em um sistema fonológico, um<br />

repertório lexical e regras sintáticas.<br />

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