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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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Tratamos <strong>de</strong> associações simbólicas relacionadas às esferas dos sentidos, e aqui<br />

não nos atemos ape<strong>nas</strong> aos cinco sentidos usualmente classificados. Uma canção nos toca<br />

física, intelectual e emocionalmente, pois, na verda<strong>de</strong> possuímos vários sistemas <strong>de</strong><br />

monitoração. Conseguimos sentir as variações <strong>de</strong> temperatura e <strong>de</strong> pressão, a posição das<br />

articulações (propriocepção), o movimento corporal (cinestesia) 30 , as sensações inter<strong>nas</strong> <strong>de</strong><br />

nossos corpos, soma <strong>de</strong> múltiplos estímulos provenientes das diversas partes do organismo<br />

e que resultam em nossas emoções (cenestesia). Existem sentidos específicos para<br />

observarmos o que acontece fora <strong>de</strong> nós, e existem aqueles que servem para percebermos<br />

nós mesmos e a relação do nosso corpo com o espaço. Os sentidos agem em grupo, basta<br />

acionarmos um <strong>de</strong>les para que outros respondam. Isso acontece para que possamos formar<br />

um cenário mental <strong>de</strong> uma situação. Ao olharmos, por exemplo, para uma fruta, po<strong>de</strong>mos<br />

sentir mentalmente sua textura, seu cheiro e seu sabor. Sensação e percepção são processos<br />

diferentes e indissociáveis em nossa apreensão da realida<strong>de</strong>. A sensação é passiva. As<br />

ondas sonoras, por exemplo, atingem o aparelho auditivo e, na forma <strong>de</strong> impulsos elétricos,<br />

são levadas pelo nervo auditivo até o cérebro. A percepção assimila, <strong>de</strong>codifica e processa<br />

dados. Aqui não nos cabe discutir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos que temos e sua complexida<strong>de</strong>.<br />

O que nos importa são nossos mecanismos ativos <strong>de</strong> percepção nos processos <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> <strong>imagens</strong>. 31<br />

Vejamos, então, como po<strong>de</strong> se dar a percepção simbólica das estruturas<br />

musicais, para, a seguir, verificarmos a partir <strong>de</strong> que elementos sonoros poéticos e musicais<br />

é possível perceber <strong>imagens</strong> visuais, espaciais, plásticas, <strong>imagens</strong> <strong>de</strong> movimento, <strong>imagens</strong><br />

temporais e, por fim, os sentimentos como <strong>imagens</strong>. Tomando por base a abordagem <strong>de</strong><br />

Santaella (2001, p.59-65) para <strong>imagens</strong> visuais, elaboramos os conceitos <strong>de</strong> Peirce para a<br />

30 Diz-se <strong>de</strong> cinestesia ao sentido pelo qual se percebem os movimentos musculares, o peso e a posição dos<br />

membros. Não confundir, pois, com sinestesia, que consiste na relação subjetiva que se estabelece<br />

espontaneamente entre uma percepção e outra que pertença ao domínio <strong>de</strong> um sentido diferente, como, por<br />

exemplo, um perfume que evoca uma cor.<br />

31 Os nossos sentidos são extremamente complexos e foge do escopo <strong>de</strong> nosso trabalho um maior<br />

aprofundamento neste tema. Salientamos que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que temos ape<strong>nas</strong> 5 formas <strong>de</strong> perceber o mundo foi<br />

formulada por Aristóteles no século IV a. C. e permanece popular até hoje. Estudos atuais consi<strong>de</strong>ram um<br />

leque bem maior <strong>de</strong> sentidos, levando em conta aqueles que auxiliam na percepção e monitoração das<br />

sensações corporais inter<strong>nas</strong>. O número <strong>de</strong> sentidos consi<strong>de</strong>rados varia em diferentes enfoques científicos e<br />

filosóficos, po<strong>de</strong>ndo passar <strong>de</strong> 20. O filósofo espanhol Xavier Zubiri (1898-1983) em Inteligencia Sentiente:<br />

Inteligencia y Realidad (1980) nos oferece uma lista <strong>de</strong> onze sentidos: visão, audição, olfato, contato-pressão<br />

(tato), gosto – os cinco tradicionais –, sensibilida<strong>de</strong> labiríntica e vestibular, calor, frio, dor, cinestesia<br />

(sensibilida<strong>de</strong> nos movimentos) e cenestesia (sensibilida<strong>de</strong> visceral). Segundo Zubiri, como cada sentido nos<br />

apresenta a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma distinta, há diversos modos <strong>de</strong> impressão <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Para o filósofo, o<br />

momento <strong>de</strong> impressão qualifica o ato apreensor como ato <strong>de</strong> “sentir” e o momento <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> qualifica-o<br />

como um ato <strong>de</strong> “inteligir”, que consiste em apreen<strong>de</strong>r algo como real. Sentir e inteligir são dois momentos<br />

<strong>de</strong> algo uno: a apreensão <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>.

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