07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Otávio Paz. Entretanto, Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z vai além, pois a música possui suas formas<br />

particulares <strong>de</strong> permitir a expressão. Nessa canção, existe uma qualida<strong>de</strong> pungente, sofrida,<br />

quase cruel na maneira como Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z aciona a dor, criando <strong>imagens</strong> sombrias e<br />

tensas com seus rasgos dilacerados <strong>de</strong> luz. Acima <strong>de</strong> tudo, por meio das <strong>imagens</strong> musicais<br />

contrastantes <strong>de</strong> luz e sombra, <strong>de</strong> movimento e estaticida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> diferentes planos no espaço<br />

e <strong>de</strong> cores escuras e claras, Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z potencializa o caráter ambíguo do<br />

sentimento sauda<strong>de</strong>, ao mesmo tempo dor e consolo, e traduz <strong>de</strong> forma bela e magistral a<br />

transformação da noite escura em noite <strong>de</strong> luar. Também na canção Vesperal, Lorenzo<br />

Fernan<strong>de</strong>z, igualmente sintonizado com o poema <strong>de</strong> Ronald <strong>de</strong> Carvalho, capta sua leveza,<br />

sua nostalgia, sua lembrança dolorida construindo <strong>imagens</strong> flutuantes, <strong>de</strong>sconectadas,<br />

espaçadas no tempo, ampliando metonímica e metaforicamente as <strong>imagens</strong> do poema.<br />

219<br />

É certo que nessas duas <strong>canções</strong> po<strong>de</strong>mos pensar em algumas analogias entre o<br />

texto poético e o texto musical, como por exemplo, a analogia entre a transformação da<br />

noite escura em noite <strong>de</strong> luar e a transformação harmônica, em A sauda<strong>de</strong>, ou a analogia<br />

entre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “pairar” do poema e o sentido inconclusivo das cadências em Vesperal.<br />

Mas essas <strong>canções</strong> vão muito além das analogias que po<strong>de</strong>mos construir. Recor<strong>de</strong>mos a<br />

afirmação <strong>de</strong> Otávio Paz, no primeiro capítulo <strong>de</strong>sta tese, <strong>de</strong> que “tradução e criação são<br />

operações gêmeas e que há um incessante refluxo entre as duas, uma contínua e mútua<br />

fecundação” (1981, p. 16). Pu<strong>de</strong>mos verificar que a canção é ela própria uma mútua<br />

fecundação entre a música e a poesia, e, por isso mesmo, é enriquecimento <strong>de</strong> percepção, é<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acionarmos nossos sentidos <strong>de</strong> uma forma abrangente, ampla, global,<br />

por meio das <strong>imagens</strong> <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s diversas que construímos. O texto musical e o texto<br />

poético, <strong>nas</strong> <strong>canções</strong> A sauda<strong>de</strong> e Vesperal, parecem se somar e se potencializar, numa<br />

justaposição <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> que enriquece e amplia nossa percepção <strong>de</strong> seus elementos: a dor,<br />

a sauda<strong>de</strong>, o pranto, o luar ou a tar<strong>de</strong>, o beijo, as sombras, as memórias.<br />

Também em Toada p’ra você, o texto poético e o texto musical encontram-se<br />

harmoniosamente e a justaposição <strong>de</strong> suas <strong>imagens</strong> potencializa os efeitos <strong>de</strong> calma,<br />

sensualida<strong>de</strong>, jogo corporal. Po<strong>de</strong>-se dizer que a tradução <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z apreen<strong>de</strong><br />

o “modo <strong>de</strong> formar” do poema, como queriam Benjamin, Valéry ou Haroldo, captando<br />

aquele algo mais que vai além do sentido das palavras, captando sua musicalida<strong>de</strong>, sua<br />

lentidão, sua circularida<strong>de</strong> e revelando sua ambiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma sutil por meio do<br />

movimento dançante, momento <strong>de</strong> prazer que tenta encobrir a dor sem, entretanto,<br />

escondê-la.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!