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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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conjunto <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> seus múltiplos elementos significativos. As vogais se alternam,<br />

‘a’ e ‘u’, criando um efeito sonoro <strong>de</strong> claro/escuro, <strong>de</strong> distensão e contração. O som é<br />

timbre, é cor.<br />

141<br />

A linha melódica se curva na palavra escura e se alça em chorar e luar.<br />

Regiões graves ecoam a escuridão e as agudas conferem luminosida<strong>de</strong> às regiões da<br />

canção. Sinestesia em seu sentido mais amplo, operando por paralelismo, promovendo a<br />

associação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s tomadas como positivas ou negativas. Associações como<br />

grave/escuro/triste/lento ou agudo/claro/alegre/rápido nos parecem muito naturais, mas<br />

são, como já tivemos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificar, resultados <strong>de</strong> nossas vivências culturais ou<br />

nossos sistemas codificados aos quais nos acostumamos. Nossos processos <strong>de</strong> percepção<br />

são responsáveis pela constituição <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> significação que relacionam geralmente<br />

sons graves e agudos respectivamente a peso e leveza, ou à escuridão e à luz. O jogo<br />

simbólico na canção <strong>de</strong>monstra, entretanto, que a significação dos elementos <strong>de</strong>ve ser<br />

colocada sempre numa perspectiva comparativa, numa perspectiva da relação. Uma nota<br />

aguda não é, per se, um signo referente à luminosida<strong>de</strong>. Requer maior energia do sopro,<br />

implica em maior abertura do trato vocal, daí remeter à luz. Na palavra chorar chega-se ao<br />

ponto mais agudo na tessitura do canto, por meio <strong>de</strong> um trítono, numa nota longamente<br />

sustentada. A abertura da vogal, a dissonância do intervalo, a região aguda da voz e a<br />

dinâmica forte concorrem para criar a imagem pungente <strong>de</strong> um grito claro e dolorido.<br />

Assim, na canção, elementos criam <strong>imagens</strong> vinculadas mais prioritariamente<br />

ao olhar. A poiesis nos é indicativa das nuanças afetivas que criam tonalida<strong>de</strong>s escuras. As<br />

indicações <strong>de</strong> caráter escritas pelo compositor marcam “calmo e triste”, com a observação<br />

“ligado e com expressão <strong>de</strong> profunda tristeza” em dinâmica piano e, ao final “com<br />

expressão sombria”, “sombrio”, “com doçura triste e calma” e “morrendo”. No plano geral<br />

da canção, predominam <strong>imagens</strong> sombrias, sugeridas pelos sentimentos evocados, pelas<br />

<strong>imagens</strong> notur<strong>nas</strong>, pela harmonia suspensa, pela tonalida<strong>de</strong> menor, pela dinâmica<br />

predominante em piano e pelas indicações <strong>de</strong> caráter.<br />

Evocativa <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> também escuras é a linha melódica do canto, ao<br />

apresentar características que po<strong>de</strong>m ser encontradas <strong>nas</strong> serestas brasileiras, tais como<br />

terminações em cromatismo, inícios <strong>de</strong> frase em anacruse, frases sinuosas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

âmbito intervalar e escalas menores. A referência melódica às serestas nos remete a<br />

<strong>imagens</strong> notur<strong>nas</strong>, além <strong>de</strong> evocar uma memória cultural <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>, solidão e nostalgia.

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