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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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cantante exige <strong>de</strong>le aquilo que o pensamento totalmente nu não po<strong>de</strong> obter senão<br />

por uma chusma <strong>de</strong> combinações sucessivamente ensaiadas. O poeta escolhe<br />

entre estas, não certamente aquela que exprimiria mais fielmente o seu<br />

“pensamento” (é tarefa da prosa) e que lhe repetiria então o que ele já sabe; mas<br />

antes aquela que um pensamento por si só não po<strong>de</strong> produzir e que lhe parece ao<br />

mesmo tempo estranha e estrangeira, preciosa, e solução única <strong>de</strong> um problema<br />

que não se po<strong>de</strong> enunciar senão quando já resolvido. (...) A linguagem aqui não é<br />

mais um intermediário que a compreensão anula, uma vez <strong>de</strong>sempenhado o seu<br />

ofício; ela age por sua forma, cujo efeito está em produzir no mesmo instante um<br />

re<strong>nas</strong>cer e um autorreconhecimento (VALÉRY apud CAMPOS, 1985, p.3).<br />

Como um tradutor, o poeta traduz a “i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo”, ou seja, mostra-se<br />

“sensível às formas e às palavras que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo requer”, i<strong>de</strong>ia retomada como se<br />

“representada <strong>de</strong> modo in<strong>de</strong>finido”. O poeta não escolhe, entretanto, aquela palavra que<br />

“exprimiria mais fielmente seu pensamento”, mas antes aquela que “um pensamento por si<br />

só não po<strong>de</strong> reproduzir”. Haroldo <strong>de</strong> Campos, ao comentar as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Valéry, nos chama<br />

a atenção para como o poeta <strong>de</strong>sconstitui assim o dogma da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à mensagem, ao<br />

conteúdo cognitivo ou “à expressão mais fiel possível do pensamento”.<br />

Portanto, aspecto primordial na teoria tradutória <strong>de</strong> Valéry é a negação da<br />

linguagem ape<strong>nas</strong> como veículo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> conteúdo, ou seja, como uma<br />

intermediária entre a i<strong>de</strong>ia e o resultado poético. A linguagem não é anulada uma vez<br />

<strong>de</strong>sempenhado seu ofício, ela age “por sua forma”, ou seja, para o autor, sua substância<br />

material é significativa.<br />

Para Valéry, “o poeta é uma espécie singular <strong>de</strong> tradutor que traduz o discurso<br />

ordinário, modificado por uma emoção, em linguagem dos <strong>de</strong>uses; e seu trabalho interno<br />

consiste menos em buscar palavras para suas i<strong>de</strong>ias do que em buscar i<strong>de</strong>ias para suas<br />

palavras e seus ritmos prepon<strong>de</strong>rantes"(apud Campos, p.5). Valéry concebe o poeta como<br />

aquele que transforma a linguagem <strong>de</strong> comunicação habitual em linguagem poética ou<br />

linguagem divina. Ao pensarmos como Valéry, entre a i<strong>de</strong>ia e o resultado poético, a<br />

linguagem, muito mais do que veículo intermediário <strong>de</strong> comunicação, contém em si, em<br />

sua materialida<strong>de</strong>, elementos por meio dos quais é possível construir sentido.<br />

Em síntese, po<strong>de</strong>mos pensar que os poetas brasileiros musicados por Lorenzo<br />

Fernan<strong>de</strong>z traduzem em palavras, sons e formas universos brasileiros e sua relação com<br />

esses universos, os quais, individuais ou coletivos, são recriados, traduzidos, transformados<br />

em linguagem poética. Buscar i<strong>de</strong>ias para as palavras e ritmos prepon<strong>de</strong>rantes do poema,<br />

construir sentido por meio também <strong>de</strong> sua materialida<strong>de</strong> são questões relevantes em nosso<br />

processo <strong>de</strong> interpretação das <strong>canções</strong>.<br />

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