07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

208<br />

O tempo para Bachelard adquire o estado <strong>de</strong> presentificação, isto é, <strong>de</strong> um<br />

fluxo <strong>de</strong> instantes ativos, repletos <strong>de</strong> passado e futuro, or<strong>de</strong>nados pela consciência. A<br />

or<strong>de</strong>m objetiva, sequencial dos eventos temporais seria então uma construção <strong>de</strong> nossa<br />

memória. Bachelard contrapõe ao “tempo vivido” o “tempo pensado”, que diz respeito à<br />

memória do futuro e à memória do passado que habitam o presente. O tempo pensado é<br />

relativo à criação, no presente, das coisas tanto passadas quanto futuras.<br />

Nossa mente é capaz <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar sequencias temporais numa or<strong>de</strong>m lógica, mas<br />

uma porção importante do conteúdo <strong>de</strong> nossa memória não exibe essa or<strong>de</strong>m uniforme,<br />

serial, e sim uma qualida<strong>de</strong> na qual eventos presentes, passados e futuros são fundidos e<br />

associados uns aos outros. Segundo Hans Meyerhoff (1976, p.21), essa “<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m”<br />

característica do tempo <strong>nas</strong> vidas huma<strong>nas</strong> é para ele o ponto central <strong>nas</strong> análises literárias<br />

do tempo. A notação literária para esse fenômeno é, <strong>de</strong> acordo com o autor, a “lógica das<br />

<strong>imagens</strong>”. É esta a lógica que ampara o método <strong>de</strong> livre associação e do monólogo interior<br />

e é um mecanismo familiar na literatura, especialmente na poesia. Para Meyerhoff, esta<br />

“lógica” é “diferente da lógica do senso comum ou da lógica das inferências indutivas<br />

causais”:<br />

A lógica <strong>de</strong> <strong>imagens</strong> ou associações é uma tentativa <strong>de</strong> mostrar que tanto quanto<br />

diz respeito às sequencias temporais e “or<strong>de</strong>m” dos eventos <strong>de</strong>ntro do mundo<br />

interior da experiência e da memória, precisamos empregar símbolos <strong>de</strong><br />

“<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m” que violem a or<strong>de</strong>m e progressão estritamente lógicas dos eventos ,<br />

às quais fomos acostumados pela ciência e pelo senso comum. .Precisamos fazer<br />

tal coisa porque o mundo interior da experiência e da memória exibe uma<br />

estrutura que é causalmente <strong>de</strong>terminada mais por “associações significativas”<br />

do que por conecções causais objetivas no mundo exterior. Transmitir essa<br />

estrutura familiar requer, assim, um simbolismo ou imagística no qual as<br />

diferentes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tempo – passado, presente e futuro – não sejam serial,<br />

progressiva e uniformemente or<strong>de</strong>nadas e sim sempre inextricável e<br />

dinamicamente associadas e mescladas umas às outras (MEYERHOFF , 1976,<br />

p.21).<br />

Meyerhoff se refere à complexida<strong>de</strong> da memória e a como fatos ocorridos em<br />

diferentes instâncias temporais po<strong>de</strong>m ser fundidos, confundidos e recriados. A memória é<br />

um instrumento <strong>de</strong> registro complexo:<br />

Sua complexida<strong>de</strong> e confusão surgem do fato <strong>de</strong> que, ao invés <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m<br />

serial uniforme, as relações da memória exibem uma “or<strong>de</strong>m” <strong>de</strong> eventos<br />

“dinâmica, não uniforme”. As coisas lembradas são fundidas e confundidas com<br />

as coisas temidas e com aquelas que se tem esperança <strong>de</strong> que aconteçam. Desejos<br />

e fantasias po<strong>de</strong>m não só ser lembrados como fatos, como também os fatos<br />

lembrados são constantemente modificados, reinterpretados e revividos à luz das

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!