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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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A canção <strong>de</strong> <strong>câmara</strong> po<strong>de</strong> criar <strong>imagens</strong> e essas <strong>imagens</strong>, <strong>nas</strong> <strong>canções</strong> <strong>de</strong><br />

Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, po<strong>de</strong>m transmitir certas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong>.<br />

É necessário, antes <strong>de</strong> tudo, imaginar, para seguirmos em frente com esta<br />

hipótese. Mas a imaginação é um processo praticamente sem fronteiras. A imaginação<br />

percorre amplos espaços. Quando ouvimos uma música, lemos uma poesia ou escutamos<br />

uma canção, nos é permitido acionar nossos universos interiores, nossas vivências afetivas,<br />

nossos sentidos, a nossa percepção do mundo a nossa volta, as paisagens que conhecemos,<br />

os objetos que tocamos, as pessoas com as quais convivemos ou das quais ouvimos falar,<br />

os personagens sobre os quais já lemos, vivências antigas e planos <strong>de</strong> futuro. Tudo isso<br />

po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong> forma indiscriminada, exatamente porque a imaginação <strong>de</strong> cada um é<br />

livre, pessoal, secreta, silenciosa e misteriosa.<br />

Ao ouvirmos as <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, po<strong>de</strong>mos experimentar<br />

sentimentos prazerosos <strong>de</strong> calma e contentamento e sentimentos dilacerados <strong>de</strong> dor.<br />

Sentimos instabilida<strong>de</strong>, tensão, dramaticida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sconforto, estranheza. Imaginamos<br />

paisagens <strong>de</strong> um Brasil distante, po<strong>de</strong>mos visualizar ambientes escuros e misteriosos,<br />

sentimos movimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> força dinamogênica, impulsos circulares, movimentos<br />

<strong>de</strong>slizantes. Imaginamos faces <strong>de</strong>sconhecidas <strong>de</strong> um poeta sem nome, <strong>de</strong> uma escrava, <strong>de</strong><br />

uma senhora da fazenda, <strong>de</strong> um caboclo, <strong>de</strong> Iemanjá. Convivemos com personagens<br />

inanimados que adquirem alma <strong>nas</strong> personificações, como o vento, a noite, o mar e os<br />

atabaques.<br />

Mas quais são os processos que realizamos para percebermos esses elementos,<br />

sentimentos, sensações, <strong>imagens</strong> <strong>nas</strong> <strong>canções</strong> <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z? Como discorrer sobre<br />

a canção sem que estejamos simplesmente comentando nossas impressões pessoais? Como<br />

adquirir consistência em nossas interpretações?<br />

Assim, por exemplo, na canção Essa negra Fulô, com poema <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong><br />

Lima, procuraremos verificar a partir <strong>de</strong> que elementos percebemos a tensão e o drama da<br />

senhora da casa gran<strong>de</strong> que grita seu ódio e frustração em notas agudas e<br />

contun<strong>de</strong>ntemente sustentadas ao mesmo tempo em que a rítmica <strong>de</strong> sua própria linha<br />

melódica a remete ao ritmo dos escravos. O ostinato surdo e vigoroso em tom menor na<br />

parte do piano assemelha-se a um batuque, ininterrupto e incisivo, que circunda a<br />

personagem ao longo <strong>de</strong> toda a peça, levando-a a um transe insuportável. Então, como<br />

falar <strong>de</strong> transe, <strong>de</strong> tensão, <strong>de</strong> ódio e frustração a partir dos elementos poéticos e musicais<br />

<strong>de</strong>sta canção? E como po<strong>de</strong>remos explicar o canto <strong>de</strong> linhas sinuosas <strong>de</strong> Iemanjá, a “mãe<br />

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