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imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

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2.3.1 O poema<br />

De você, Rosa, eu não queria<br />

Receber somente esse abraço<br />

Tão <strong>de</strong>vagar que você me dá,<br />

Nem gozar somente esse beijo<br />

Tão molhado que você me dá...<br />

Eu não queria só porque<br />

Por tudo quanto você me fala<br />

Já reparei que no seu peito<br />

Soluça o coração bem feito<br />

De você.<br />

Pois então eu imaginei<br />

Que junto com esse corpo magro<br />

Moreninho que você me dá,<br />

Com a boniteza a faceirice<br />

A risada que você me dá<br />

E me enrabicham como o que,<br />

Bem que eu podia possuir também<br />

O que mora atrás do seu rosto, Rosa,<br />

O pensamento a alma o <strong>de</strong>sgosto<br />

De você. 51<br />

199<br />

Os versos mo<strong>de</strong>rnistas <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> são invadidos por um franco<br />

sensualismo e uma musicalida<strong>de</strong> particular é moldada numa fala coloquial, leve e sedutora.<br />

A “língua brasileira” que o poeta mo<strong>de</strong>rnista se empenhou para empregar transpira em<br />

vocábulos como enrabicham, risada, moreninho, boniteza.<br />

A graça da musicalida<strong>de</strong> nesses versos irá se manifestar, não em métricas ou<br />

rimas regulares, mas exatamente na ligeira <strong>de</strong>sestabilização da métrica pela alternância <strong>de</strong><br />

versos <strong>de</strong> 8 ou 9 sílabas, e por vezes 10 sílabas, na maneira <strong>de</strong> dar tempo ao tempo para<br />

dizer tão <strong>de</strong>vagar, tão molhado, na calma e na preocupação com o nome, Rosa, muito além<br />

da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escansão regular. E também na sutileza do uso dos recursos sonoros, na<br />

predominância das <strong>de</strong>slizantes sonorida<strong>de</strong>s fricativas das consoantes, <strong>nas</strong> rimas ape<strong>nas</strong><br />

fechando as estrofes, <strong>nas</strong> poucas anáforas e principalmente na reiteração do tratamento<br />

direto: <strong>de</strong> você, que você me dá.<br />

As frases longas e arrastadas se encapsulam na forma circular conferida ao<br />

poema. Abrindo o poema e fechando as estrofes estão o querer e o receber que vêm <strong>de</strong><br />

você. O início suspensivo inaugura uma sutil expectativa. A negativa que se coloca logo <strong>de</strong><br />

início eu não queria é surpreendida pelo somente, e se <strong>de</strong>senvolve numa longa frase que,<br />

51 ANDRADE, Mário. s.d., p. 131. Poema escrito em 1924 e publicado originalmente no livro O Clã do<br />

Jabuti, com o título <strong>de</strong> Rondó pra você.

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