07.04.2013 Views

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

imagens de brasilidade nas canções de câmara de lorenzo fernandez

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Pretendi fazer uma coisa bem diferente do que se fez até hoje por aqui. Coisa<br />

brasileira, brasileiríssima. Mas <strong>de</strong> um brasileirismo bem compreendido, é claro.<br />

Não chamo <strong>de</strong> brasileirismo às tentativas vulgares <strong>de</strong> explorar a corda <strong>de</strong>safinada<br />

dos nacionalistas baratos. Para mim, brasileirismo é o sentido íntimo que toda<br />

obra nossa <strong>de</strong>ve ter, essa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>nas</strong>cer da nossa terra (FERNANDEZ,<br />

apud AQUARONE, 1944, p. 49).<br />

Muitas são as vozes que pulsam <strong>nas</strong> composições <strong>de</strong> Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z,<br />

particularmente em suas <strong>canções</strong>. Textos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> textos, musicais e verbais, refletindo o<br />

universo heterogêneo das paisagens brasileiras daquela época. Cabe-nos enten<strong>de</strong>r, ao<br />

analisarmos e interpretarmos suas <strong>canções</strong> utilizando-nos <strong>de</strong> nosso conceito <strong>de</strong> <strong>imagens</strong>, a<br />

maneira como o compositor lida com esse diálogo, polido, elegante, tenso, em estado <strong>de</strong><br />

fricção.<br />

Em nosso enten<strong>de</strong>r, Lorenzo Fernan<strong>de</strong>z, ao mesmo tempo em que empresta sua<br />

voz polifônica perpassada pelas “vozes do outro” na composição <strong>de</strong> suas <strong>canções</strong>,<br />

conseguirá uma visão distanciada que o impedirá <strong>de</strong> retratar, sem tensões e impunemente,<br />

o universo musical brasileiro. Talvez pelo fato <strong>de</strong> ser filho <strong>de</strong> imigrantes, possuía o que<br />

chamamos <strong>de</strong> olhar “oblíquo”, resvalando entre o ser brasileiro, perfeitamente inserido em<br />

seu contexto urbano no bairro da Glória no Rio <strong>de</strong> Janeiro e o estrangeiro, observador<br />

curioso, atônito, angustiado, encantado, como nos <strong>de</strong>monstra esse excerto poético <strong>de</strong> Maria<br />

Idalina Ismael (1998, p.57), num misto <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> e ficção:<br />

Naquele dia marcamos, eu, Villa, Pixinguinha,<br />

Catulo, Sinhô, Donga, Mignone e<br />

Hilário Jovino, na casa da Tia Ciata.<br />

Praça Onze.<br />

De lá fomos a um candomblé do pai-<strong>de</strong>-santo<br />

João Alabá, na Saú<strong>de</strong>.<br />

Naquele tempo, candomblé (religião <strong>de</strong> origem<br />

africana), roda <strong>de</strong> samba, rancho, ternos ou<br />

qualquer ajuntamento <strong>de</strong> negros, mulatos e<br />

brancos a polícia vinha dar uma olhada.<br />

Por isso todo mundo andava perto <strong>de</strong> todo<br />

mundo.<br />

Tia Ciata, uma das fundadoras do rancho Rosa<br />

Branca.<br />

Promovia festas até o amanhecer em sua casa.<br />

Homenagem a Nossa Senhora da Conceição e a<br />

Cosme e Damião.<br />

Baiana, bonita que só ela, dançava miudinho que<br />

só, fazia doce que só, era filha <strong>de</strong> Oxum. (...)<br />

Foi a cerimônia mais bonita a que assisti nesses<br />

últimos tempos.<br />

Quando chegamos.<br />

Sentamos.<br />

63

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!