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crianças livres e as escravas; as que vivem em ambiente rural e as de ambiente urbano;<br />

os ricos e os pobres; os órfãos e abandonados; os que tem família, etc.<br />

É importante perceber que, no Brasil Colônia, as crianças escravas não tinham,<br />

na maioria das vezes, a referência do pai; e não raro o mesmo se dava em relação à<br />

mãe biológica. As mulheres escravas absorviam os cuidados pelas crianças sendo<br />

filhos legítimos ou não. Esse abandono de crianças escravas está muito presente no<br />

momento da implantação no Brasil da lei do Ventre Livre, em que muitas escravas eram<br />

vendidas como ama de leite, tendo que desvencilhar-se de seus rebentos. Mattoso<br />

(1991, p. 83) fortalece essa compreensão quando diz:<br />

102<br />

O olhar mais próximo é o olhar da mãe; do pai nada se sabe. Em<br />

Salvador, entre 1870 e 1840, em 85 batismos de crianças escravas,<br />

todos, absolutamente todos, são batismos de crianças ilegítimas. Mas é<br />

também verdade que, para o mesmo período, a taxa de ilegitimidade<br />

atinge 62% da população livre.<br />

Leite (2006, p. 21), discutindo a ocultação de dados no tratamento estatístico de<br />

crianças e mulheres, revela que: “crianças “sem pai” podem ser órfãos, filhos ilegítimos,<br />

expostos, ou ter um pai ausente. A denominação de “bastardos”, com todas as<br />

conotações do termo, pesa sobre elas como um decreto de exclusão”.<br />

Acabo de descrever como uma organização familiar matrifocal no meio<br />

escravocrata, representa uma estruturação perversa do modo social como<br />

colonizadores brancos compreendiam e faziam valer seus interesses e valores. “As<br />

famílias, sobretudo as de negros e mulatos livres eram substancialmente matrifocais,<br />

dirigidas e sustentadas muitas vezes pelo elemento feminino que deveria contar com<br />

um mínimo de auxílio, inclusive dos filhos” (SCARANO, 2006, p. 110 – 111).<br />

Aspectos regionais e de sua exploração no país, como os relatados por Scarano<br />

(2006) em Minas Gerais as peculiaridades do trabalho de extração de ouro levou os<br />

homens a se distanciarem da família. Crianças filhos de escravos ou de homens livres,<br />

bem como as mulheres, estão sós. O autor revela ainda o aumento de “mães solteiras,<br />

de lares com chefia feminina e de filhos ilegítimos”, motivados pelas inconstantes<br />

instabilidades provocadas por oportunidades de trabalho. Isso também explica, nesse<br />

contexto, a família matrifocal.

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