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JOÃO GUILHERME RODRIGUES MENDONÇA - Home - Unesp

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aproveitar desses indivíduos como força produtiva; na metade do século XVIII na<br />

Europa, a ‘RODA’. Danzelot (1980, p.30) explica seu funcionamento:<br />

109<br />

Trata-se de um cilindro cuja superfície lateral é aberta em um dos lados<br />

e que gira em torno do eixo da altura. O lado fechado fica voltado para a<br />

rua. Uma campainha exterior é colocada nas proximidades. Se uma<br />

mulher deseja expor um recém-nascido, ela avisa a pessoa de plantão<br />

acionando a campainha. Imediatamente, o cilindro, girando em torno de<br />

si mesmo, apresenta para fora o seu lado aberto, recebe o recém–<br />

nascido e, continuando o movimento, leva-o para o interior do hospício.<br />

Dessa forma o doador não é visto por nenhum servente da casa.<br />

No Brasil do século XVIII havia também um alto índice de mortalidade infantil, de<br />

crianças filhos legítimos e ilegítimos. Estas últimas, em sua maioria, eram filhos de<br />

escravos. Os médicos da época discutiam as diversas causas dessas mortes e a<br />

incompetência dos adultos que cuidam era apontado como causa. O abandono dos<br />

pais para com seus filhos se multiplicava pelo país. A ‘casa dos enjeitados’; a ‘casa da<br />

roda’; a ‘casa dos expostos’ se revelavam como uma solução. Costa, J. (1989) observa<br />

que a constituição dessas Casas com intuito de proteger a honra da família colonial e a<br />

vida da infância obteve efeito contrário:<br />

Dispondo da roda, homens e mulheres passaram a contar com um apoio<br />

seguro à suas transgressões sexuais. Estavam certos de que podiam<br />

esconder os filhos ilegítimos em local onde seriam bem tratados. De<br />

protetora da honra, a Casa tornou-se um incentivo à libertinagem.<br />

(COSTA, J., 1989, p. 164-165).<br />

A Casa da Roda também revelou outro lado perverso de sua utilidade. Como<br />

amamentar não era um costume incentivado nas diferentes camadas da sociedade,<br />

principalmente pela influência dos nobres, o uso de escravas como amas de leite era<br />

comum no século XIX como fonte de renda. 14 Desse modo, os senhores, proprietários<br />

de escravas, puderam lucrar com o aluguel de suas posses nutrizes, abandonando os<br />

filhos recém-nascidos na Roda. Não havia opção nem de venda dessas crianças<br />

escravas, dado o alto índice de morte na infância; a sobrevida de uma criança escrava<br />

14 Badinter (1985, p.67) esclarece que não era comum o aleitamento desde o século XVII nas mulheres<br />

da nobreza.

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