JOÃO GUILHERME RODRIGUES MENDONÇA - Home - Unesp

179
chapa. Na nossa clínica particular aconselhamos sempre,
veementemente, esse cuidado, e, por duas vezes, estamos certos de
que formam evitadas duas grandes tragédias. (DE LAMARE,
22/08/1942, p. 09).
Vemos, nessa citação, reafirmado que as mães dividiam ou repassavam às
‘amas-secas’ a função da maternidade. Nesse momento, testemunhamos a tolerância
da medicina em relação à presença das ‘amas-secas’ no contexto relacional da família,
em particular no convívio diário com a criança. Essa permissividade não se estenderá
por todo o século XX, e irá ser aplacada pelos médicos higienistas que ‘convocarão’ as
mães (que serão denominadas como as verdadeiras), a responsabilizarem-se
diretamente pelos cuidados dos filhos, de modo a ‘higienizar’ o lar das influências ruins
sociais, morais e físicas das ‘amas-secas’.
Um exemplo do rigor que espera as mães na atenção com a criança é verificado
no artigo de 14/11/42. De Lamare explicando que o hábito de comer terra já fora
considerado como “uma perversão do apetite, em consequência de distúrbios mentais”.
Considera que há ainda por parte de alguns médicos essa equivocada compreensão,
mas que hoje já é compreendida como carência de cálcio na alimentação, comprovada
nas últimas pesquisas feitas nesse sentido pelos cientistas modernos.
Diante da presença de criança com esse hábito, De Lamare dispara uma
condenação aos pais (mãe), no sentido de que eles merecem castigo por,
“criar erradamente o filho, dando-lhe alimentos pobres em cálcio”. Como se vê, a
família precisa funcionar em sintonia com os avanços da medicina.
Se há médicos que ainda não compreendem o valor e as propriedades dos
alimentos, o que faz De Lamare pensar que as famílias e, particularmente as mães
dariam conta de dominar essas informações? Trata-se de colocar a mãe em um lugar a
serviço da medicina, e encaixando-se nas diretrizes policialescas do médico na família.
De Lamare estenderá sua ação intervencionista também para lugares diferentes
da alimentação e aleitamento infantil, com o firme propósito de aconselhar as mães na
tarefa da maternidade. Particularmente nesse ano de 1942, testemunhamos o início de
artigos que exploraram os cuidados relativos à criança que se afasta da amamentação
e de doenças da primeira infância. São oito (8) os artigos que procuram elucidar outros
aspectos do desenvolvimento da criança: Dê ao Primeiro Filho o Segundo Lugar