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JOÃO GUILHERME RODRIGUES MENDONÇA - Home - Unesp

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educação da mulher para a função da maternidade. Fundamentados na cientificidade<br />

dos conhecimentos da medicina, os diferentes autores que escreviam nessas seções,<br />

representados, sobretudo por médicos, municiam as mães sobre o que consideram a<br />

mais autêntica e confiável verdade sobre a dinâmica de zelar, cuidar e criar um filho.<br />

Suas intervenções, instruções, descrições, conselhos e ordens de cuidados e de<br />

educação da criança pela mãe vão exercer o papel de formação de novas mentalidades<br />

em relação à vida familiar e os cuidados em relação às crianças. É possível ver<br />

revelado o distanciamento e até mesmo a recusa sobre os saberes possíveis das<br />

mulheres mães e leitoras, a quem os médicos se dirigiam. Os especialistas adentram<br />

na história familiar, interferindo e fundamentando normas para a rotina da criação do<br />

filho, criando uma atmosfera de culpa, diluição da autonomia parental, através da<br />

imposição do poder do conhecimento especializado, descredenciando as tradições<br />

familiares e locais; desacreditando os pais, os parentes e procurando tomar os espaços<br />

dos leigos e das orientações das pessoas mais velhas e próximas da família. Uma<br />

verdadeira polícia das famílias, como descreve Danzelot (1980).<br />

Esse papel normatizador de controle dos costumes (ELIAS, 1990) permite a<br />

compreensão da história dos homens. Nessa pesquisa, verificamos que os<br />

especialistas que escrevem nas seções para as revistas Fon Fon, Vamos Ler e A<br />

Cigarra, ao dirigir o texto e atenção nos cuidados sobre a criança, estão, na verdade,<br />

disciplinando a mulher a um lugar e a se estabelecer em definidos papéis a representar.<br />

O que se delineia e vai configurando a hipótese dessa pesquisa é que toda a<br />

preocupação a que, aparentemente, os médicos estão imbuídos de atenção à criança,<br />

a puericultura, trata-se na verdade de um processo civilizador (ELIAS, 1990; ÁRIES;<br />

DUBY, 1992), das mulheres na sociedade higienizada, que teve sua gênese ainda no<br />

século XIX. A mulher mãe, priorizada nas seções das revistas, configura-se em uma<br />

relação de gênero que oferece nítidos contornos de uma educação feminina. Os<br />

autores, especialistas que escreviam nesses artigos apresentam nítidos contornos de<br />

ambivalência na exploração entre esses dois mundos: o mundo da criança e o mundo<br />

da mulher.<br />

O processo civilizador imprimido pelos especialistas, particularmente os médicos,<br />

foi o de provocar mudanças sociais no contexto da família da elite brasileira em relação<br />

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