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que tem, agora, a compreensão e domínio do que seja uma ‘verdadeira mulher’, o<br />

médico.<br />

Del Priore (2008) compreende que a medicina, ao reforçar a dimensão biológica<br />

da mulher, percebia-a, nesse contexto, o parir e procriar, interligando essa<br />

compreensão biológica à dimensão moral e metafísica, que caracterizaria a mulher<br />

como aquela que é mãe, frágil e submissa. Desse modo, estariam lançadas as bases<br />

de compreensão da mulher com a função única de ser mãe, como também era<br />

convenientemente ser compreendido pela Igreja Católica os desígnios de Maria –<br />

procriar. Procriar, serem imagem e semelhança de Maria não remete em nenhuma<br />

circunstância a experiência da sexualidade feminina de sentir prazer. “Insistindo sempre<br />

na dignidade da procriação, na excelência dos sentimentos maternos e na necessidade<br />

de equilíbrio para evitar as “afecções morais”, o discurso médico só enxergava a<br />

vocação biológica das mulheres”. (DEL PRIORE, 2008, p.87).<br />

A subjetividade estabelecida por eles (os médicos) às mulheres, particularmente<br />

em relação à sua condição de se tornarem mãe (‘rainha do lar’), tinha por objetivo<br />

conquistá-las; se revelará na dessacralização dos saberes historicamente construídos<br />

pelas heranças femininas sobre ser mãe. Araújo E. (2008, p. 52, grifo do autor) contribui<br />

para essa compreensão, caracterizando o que se tornará regra:<br />

Porém, a mulher não podia exercer sua maternidade em paz. Os<br />

médicos homens logo entravam em cena para diminuir o brilho do<br />

milagre e dos mistérios da fecundidade e para dizer à mulher que ela<br />

continuaria dependente do saber, e do poder, masculino. Eles<br />

procuravam entender, explicar e catalogar o que a mulher sabia e fazia<br />

com naturalidade, apoiada em uma experiência ancestral.<br />

Desde o Brasil Colônia, eram as mulheres que prioritariamente cuidavam das<br />

mulheres. As condições desfavoráveis do exercício da medicina no país contribuíram<br />

para que as mulheres se instrumentalizassem para responder os sofrimentos do corpo.<br />

Essas mulheres cuidadoras faziam, às vezes, tarefas que seriam destinadas aos<br />

médicos e cirurgiões da época; e alcançavam diante da Igreja o status de feiticeiras.<br />

Sua prática informal, baseada nas tradições e costumes indígenas e africanos, se<br />

utilizava, entre outras práticas, de “palavras e ervas mágicas, suas orações e<br />

adivinhações para afastar entidades malévolas.” (DEL PRIORE, 2008, p.81).<br />

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