DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

No meio do caminho: recepção, apropriação e metáfora ___________________________________ Letícia Malard 107
Um ano antes o escritor já havia dito:
“[...] o poema não é meu. Trata-se da repetição, oito vezes
seguidas, dos substantivos “meio”, “caminho” e “pedra”, ligados por
preposições, artigos e um verbo. Não há nisto poema algum, bom ou
mau. Há apenas alguns vocábulos, que podem ser encontrados no
Pequeno Dicionário de Língua Portuguesa, revisto pelo sr. Aurélio
Buarque de Holanda.” 11
Dez anos depois, a Geir Campos explicou que queria dar a
sensação de monotonia e chateação, a começar pelas palavras. 12
Apropriação do poema
No mencionado livro sobre os caminhos da sua pedra, percorridos
durante 39 anos, o poeta também mostrou como ela foi apropriada em
textos jornalísticos que falam dos mais diversos assuntos: administração
pública, advocacia, economia, esporte, escola, moda, arte, gramática (aí
corrigindo-se o “tinha”, por “havia”), literatura (poemas não só
parodísticos, mas também sérios evocando o de Drummond), teatro,
rádio, terra natal, confusão internacional e sobretudo política. Desta
última, vejamos alguns exemplos do noticiário da imprensa:
“O sr. Benedito Valadares [interventor nomeado pela ditadura
getulista para Minas] é a “pedra no meio do caminho “ que impede o
congraçamento das forças políticas de Minas Gerais.” 13
11 ANDRADE, Carlos Drummond de. Auto-Retrato. Leitura, Rio de Janeiro, VI, 1943. In:
_________. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. Op. cit., p. 181.
12 Revista da Semana, Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1954. In: ANDRADE, Carlos
Drummond de. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. Op. cit., p. 184-5.
13 O Estado de S. Paulo, São Paulo, 18 de julho de 1946. In: ANDRADE, Carlos Drummond
de. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. Op. cit., p. 113.
Revista Volume LI.p65 107
12/5/2009, 15:29