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DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

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164 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />

sobre o que po<strong>de</strong>ria ter sido, e nunca o que <strong>de</strong> fato po<strong>de</strong> se fazer para que<br />

<strong>de</strong> fato seja o <strong>de</strong>sejado.<br />

Em A Possessa (1967) Hilst coloca na personificação da personagem<br />

América os recursos utilizados para se privar o ser humano da voz e<br />

consequentemente dos ímpetos da ação. A própria autora intitula a peça<br />

como “teorema seguido <strong>de</strong> inúmeros corolários. Um <strong>de</strong>les seria a<br />

re<strong>de</strong>finição que mantivesse no homem sua verda<strong>de</strong>ira extensão<br />

metafísica”. E no <strong>de</strong>senrolar <strong>de</strong>ssa “peça <strong>de</strong> advertência” temos a<br />

trajetória da jovem América que foi proibida <strong>de</strong> expor o que pensa. Em<br />

meio a planos <strong>de</strong> ilustrações que subvertem a realida<strong>de</strong> e performam<br />

numa esfera <strong>de</strong> pensamento e repressão, acompanhamos a personagem<br />

central até os últimos <strong>de</strong>sígnios pautados nesse silêncio ao qual foi<br />

submetida.<br />

Já em O rato no Muro (1967) temos um plano <strong>de</strong> ação cênica<br />

ligada a um fenômeno limítrofe que propulsiona a obra no seu percurso<br />

da não/ação. Dez freiras, das quais não sabemos os nomes, estão<br />

encarceradas e <strong>de</strong>stituídas <strong>de</strong> qualquer expressão num ambiente <strong>de</strong><br />

clausura. A monotonia que rege cotidianamente rituais <strong>de</strong> fé, salvação e<br />

vazios é modificada pela passagem <strong>de</strong> um rato num muro que cerca o<br />

local e que ninguém vê. Submerge <strong>de</strong>sse ato uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transposição <strong>de</strong>ssa fronteira invisível e pela invisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste elemento<br />

cênico (o muro) somos confrontados com nossas eternas e múltiplas<br />

muralhas que se erguem junto aos fragmentos suscitados pelas freiras,<br />

mas que se igualam e se esten<strong>de</strong>m em nossas proporções <strong>de</strong> medo, <strong>de</strong>sejo<br />

e infernos esculpidos mediante a concretu<strong>de</strong> <strong>de</strong> muros e forças não<br />

palpáveis.<br />

Dois exemplos <strong>de</strong> um teatro performático que, na mistura dos<br />

elementos, na captura pelo interno dos envolvimentos, na construção<br />

pautada nas lacunas e edificações invisíveis que nos formatam, na<br />

escritura que se processa <strong>de</strong> forma aberta a ser completada pelo leitor/<br />

espectador, se firma como um silêncio interminável a ser colocado em<br />

cena, iluminado com o mais potente dos holofotes para que o eco <strong>de</strong>ste<br />

silêncio ganhe projeções rumo à busca incessante por uma voz liberta <strong>de</strong><br />

amarras e engran<strong>de</strong>cida pela concretização do ato <strong>de</strong> mudar.<br />

Revista Volume LI.p65 164<br />

12/5/2009, 15:29

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