DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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252 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
Sabe-se que autobiografia é a vida <strong>de</strong> uma pessoa narrada por ela<br />
própria. Esses procedimentos literários chegam, por vezes, a <strong>de</strong>nominarse<br />
“Confissões”, como as <strong>de</strong> Santo Agostinho e Rousseau; já Lamartine<br />
preferiu chamá-los “Confidências”.<br />
Pela excelência dos trabalhos <strong>de</strong> Murilo Badaró, presume-se que<br />
ele tenha percorrido com leituras cuidadosas os livros memorialísticos <strong>de</strong><br />
Benvenuto Cellini, John Stuart Mill, Ruskin, Casanova, Goethe, e ainda a<br />
notável psicóloga Helene Deutsch, gran<strong>de</strong> estudiosa da mente e da<br />
conduta femininas; e aqui no Brasil, com nossos escritores, buscou exemplos<br />
dignificantes em Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque, Humberto <strong>de</strong> Campos, Paulo<br />
Setúbal, Graça Aranha, e o nunca esquecido Joaquim Nabuco, com o seu<br />
Minha Formação. Mais recentes, os mineiros Afonso Arinos <strong>de</strong> Melo<br />
Franco e Paulo Pinheiro Chagas, da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Mineira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>.<br />
De início, sentimos um impacto ao nos <strong>de</strong>paramos com o título<br />
Memórias Póstumas... sobejamente mencionado <strong>de</strong>ntre as obras do<br />
famigerado Bruxo do Cosme Velho. E lemos no Prólogo uma justificativa<br />
para que não nos alarmemos: “Desvalido aluno, procurei seguir as lições<br />
do mestre <strong>de</strong> todos nós, o autor <strong>de</strong> Memorial <strong>de</strong> Aires, certo <strong>de</strong> que<br />
“melhor estilo é o que narra as coisas com simpleza, sem atavios<br />
carregados e inúteis”. E mais adiante, em confissão, ainda no introito das<br />
memórias, alerta-nos o autor: “Faço sinceros votos, caro leitor, não tenha<br />
você perdido o gosto pelos bons livros (...), e muito menos [venha] a me<br />
acusar <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> imaginação por estar me apropriando <strong>de</strong> um título <strong>de</strong><br />
obra famosa <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, autor jamais submetido a menoscabo<br />
por haver se inspirado na obra clássica <strong>de</strong> Chateaubriand com o mesmo<br />
título”.<br />
Todo o livro <strong>de</strong> Murilo Badaró é um trabalho árduo e, ao mesmo<br />
tempo, fascinante. O autor se dispôs à tarefa, <strong>de</strong> corpo e alma, fortemente<br />
imbuído do propósito <strong>de</strong> realizar a mais elegante e fiel biografagem do<br />
seu ilustre avô. E com certeza, valeu-se <strong>de</strong> anotações e diários<br />
cuidadosamente selecionados para a empreitada e buscou documentação<br />
arquivada no Consulado brasileiro. Narrar na primeira pessoa, em nome<br />
<strong>de</strong> outro, fatos imaginados, mas em <strong>de</strong>scrição real e facilmente<br />
comprovada em anais históricos, é esforço redobrado do escrever.<br />
Revista Volume LI.p65 252<br />
12/5/2009, 15:29