16.04.2013 Views

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Imagens: realida<strong>de</strong> e ficção ____________________________________________________ Paulo Augusto Gomes 131<br />

para falar <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> que, caso viesse a ser concretizada,<br />

abalaria os alicerces da Europa. Woody Allen, por sua vez, utilizou um<br />

filme <strong>de</strong> ficção japonês “sério” e dublou-o <strong>de</strong> modo a convertê-lo em<br />

uma comédia: agentes secretos, que originalmente buscavam segredos<br />

nucleares, passam a se <strong>de</strong>bater, na versão alleniana, em busca <strong>de</strong>...<br />

uma receita para uma salada <strong>de</strong> ovos! O visual não foi mexido; apenas o<br />

sentido da trama foi alterado.<br />

Nada é tão tênue como uma imagem. Dela se po<strong>de</strong> fazer o que se<br />

quiser, nela po<strong>de</strong> ser impregnado um sentido que originalmente não<br />

possuía – isso, para além dos valores que ela originalmente trazia em si.<br />

Tomemos um exemplo: uma imagem <strong>de</strong> Hitler produzida por Leni<br />

Riefenstahl – portanto, enaltecedora – po<strong>de</strong>, graças a artes e manhas da<br />

montagem e da banda sonora, transformar-se em crítica pesada ao ditador<br />

alemão. Basta acompanhar diariamente como as televisões tratam seu<br />

material <strong>de</strong> arquivo para se ter uma idéia do que é possível fazer.<br />

A arte não vê, tem visões. Mais interessantes elas se tornam quando<br />

o criador não tem vergonha alguma <strong>de</strong> imprimir sua marca pessoal sobre<br />

o material que filma e usa. É como se dissesse: – isso aí sou eu, é assim<br />

que vejo esse assunto, essas são minhas i<strong>de</strong>ias. Em Verda<strong>de</strong>s e Mentiras<br />

(F for Fake), Orson Welles, no início, afirma que só falará verda<strong>de</strong>s na<br />

próxima hora – mas seu filme dura mais que isso e, a partir <strong>de</strong> certo<br />

ponto que não conseguimos <strong>de</strong>terminar com exatidão, ele põe-se a<br />

inventar e mentir <strong>de</strong>scaradamente, já que também inverda<strong>de</strong>s fazem parte<br />

do seu discurso.<br />

Explorada até a exaustão, a narrativa cinematográfica atingiu um tal<br />

grau <strong>de</strong> sofisticação e dubieda<strong>de</strong> que se torna difícil confiar nela como<br />

prova do que quer que seja. Hoje, quando personagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho<br />

animado (ou criados por computador) interagem com atores humanos,<br />

levando à fusão <strong>de</strong> universos antes distintos, não faz mais muito sentido<br />

apostar na imagem como algo digno <strong>de</strong> fé. Talvez, aliás, nunca tenha<br />

feito. Produtos da imaginação humana, o cinema e as outras formas <strong>de</strong><br />

arte só nos trazem a verda<strong>de</strong> quando ela vem embutida na mais complexa<br />

ficção. O ciclo, então, se fecha e os extremos se tocam. É quando a arte<br />

mostra verda<strong>de</strong>iramente sua finalida<strong>de</strong> e objetivo.<br />

Revista Volume LI.p65 131<br />

12/5/2009, 15:29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!