DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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A tradição acadêmica _____________________________________________________________ Vivaldi Moreira 197<br />
Vemo-lo em uma expressiva caricatura <strong>de</strong> Oswaldo, num Para<br />
Todos, semanário dos mais importantes da época, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1927,<br />
logo apos a eleição consagradora: Honório, assentado em uma pedra, na<br />
beira <strong>de</strong> um rio, com a cana <strong>de</strong> pescar nas mãos, fumando o seu<br />
in<strong>de</strong>fectível cigarro <strong>de</strong> palha, com a basta cabeleira, coroa <strong>de</strong> príncipe no<br />
cocoruto, pássaros cantando ao redor e até pousados na sua “chumbeira”<br />
<strong>de</strong> um cano. Pelo chão, a cesta <strong>de</strong> merendas, foice, facão e peixes<br />
saltitantes. Os entendidos dizem que a caricatura exprime a realida<strong>de</strong>.<br />
Príncipe foi este Honório Armond embora jamais o querendo. Foi<br />
príncipe pelo seu <strong>de</strong>sdém por tudo que não era autêntico; príncipe pelo<br />
seu <strong>de</strong>votamento à poesia; príncipe pelo <strong>de</strong>sprezo ao efêmero. A leitura<br />
da carta que dirigiu a C.D.A. revela tudo isso, revela sobretudo um<br />
caráter e vale a pena relê-la, porque é um documento <strong>de</strong> rara nobreza, tão<br />
difícil em todos os tempos: – “Agra<strong>de</strong>ço-lhe, penhoradíssimo, as suas<br />
gentilezas e tomo a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> lhe enviar, também, a expressão do meu<br />
sincero espanto por esse “Principado” que me coube e com o qual nem<br />
sonhava sequer. Não há na minha vida nada que mereça reparo. Vida<br />
escura e pobre. Tenho publicado Ignotae Deae, livro pedantesco <strong>de</strong><br />
estreante e Perante o Além, livro <strong>de</strong> dúvida e angústia. Tenho, inédito, Os<br />
caminhos da vida e do <strong>de</strong>stino, livro <strong>de</strong> confiança e fé. Escrevi mais duas<br />
pastorais, Era uma vez e Milagre das Rosas que, somadas, não valem um<br />
pataco. De coração, meu bom amigo, acho que esta eleição não<br />
representa a verda<strong>de</strong>. Isto é cabala <strong>de</strong> estudantes meus amigos e alunos, e<br />
bem sabe que o voto para nós nada significa. Entre Augusto <strong>de</strong> Lima,<br />
Abgar Renault e José Oiticica po<strong>de</strong>ria eu figurar como caudatário <strong>de</strong><br />
um <strong>de</strong>les e com isto me honraria. Só lhe posso garantir que esse<br />
principado – que não mereço, sem toleimas <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> – é <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>sses três rútilos poetas, que admiro e que invejaria se fosse capaz <strong>de</strong><br />
invejar a alguém.”<br />
Ao finalizar sua crônica, tão referta <strong>de</strong> substância poética e<br />
humana, Dummond faz o epítome da vida <strong>de</strong> Armond, nestas palavras:<br />
“– Mesmo assim, o titulo grudou-se-lhe ao nome; ele é que não quis<br />
industrializá-lo em bens e fama. Não tinha a nimia cupiditas principatus,<br />
<strong>de</strong> que fala Cícero.”<br />
Revista Volume LI.p65 197<br />
12/5/2009, 15:29