DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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A tradição acadêmica _____________________________________________________________ Vivaldi Moreira 191<br />
<strong>de</strong> Bilac, o Papa da literatura. Era uma época diferente, não sei se mais<br />
feliz que a nossa, em que os homens <strong>de</strong> inteligência e sensibilida<strong>de</strong><br />
gozavam <strong>de</strong> um prestígio singular. Basta folhearmos um só dos cronistas<br />
daquele tempo, o admirável João do Rio, para sentirmos a magistratura<br />
incontrastável do príncipe parnasiano. Abrindo as entrevistas <strong>de</strong> seu O<br />
Momento Literário, João do Rio inicia com Bilac, e nestes termos; –<br />
“Bilac chegou à perfeição – é sagrado. Não há quem o não admire, não<br />
há quem o não louve. As fadas, que são quase uma verda<strong>de</strong>, fizeram <strong>de</strong><br />
sua existência uma sinfonia <strong>de</strong>liciosa, e como o seu talento não tem<br />
<strong>de</strong>sfalecimentos e a sua ativida<strong>de</strong> é sempre fecunda, a admiração se<br />
perpetua. É o poeta da cida<strong>de</strong> como Catulo o era <strong>de</strong> Roma e como<br />
Apuleio o era <strong>de</strong> Cartago. Todos o conhecem e todos o respeitam. Aon<strong>de</strong><br />
vá, o louvor acompanha-o. A cida<strong>de</strong> ama-o. Nenhum poeta contemporâneo<br />
teve o <strong>de</strong>stino luminoso <strong>de</strong> empolgar exclusivamente! Ele é o pontífice<br />
dos artistas e dos que o não são.”<br />
Qual <strong>de</strong> nós refugiria a este magistério avassalador?<br />
Seu segundo livro, Alma Antiga, o mais trabalhado <strong>de</strong>les, Paulo<br />
Brandão <strong>de</strong>dicou-o a memória do “mestre da forma”, aquele que queria o<br />
verso “saído da oficina sem um <strong>de</strong>feito”. Sua inspiração, haurida nos<br />
parnasianos, harmoniza-se com o <strong>de</strong>sprezo pelo “vulgo municipal e<br />
espesso”, <strong>de</strong> que nos falou um dos epígonos <strong>de</strong> seu grêmio.<br />
Homem <strong>de</strong> cultura clássica, <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> humanistas, sua<br />
poesia reflete as predileções <strong>de</strong> seu espírito.<br />
Em Poentes <strong>de</strong> Inverno, o livro <strong>de</strong> estréia, <strong>de</strong> 1905, <strong>de</strong>param-se-nos<br />
traduções e paráfrases <strong>de</strong> Heredia, Bau<strong>de</strong>laire, Heine, Lecomte <strong>de</strong> Lisle,<br />
Byron, Uhland e Théophile Gautier, em alguns alexandrinos bem<br />
medidos e <strong>de</strong> jucunda inspiração.<br />
Vamos, porém, encontrar o poeta já feito, <strong>de</strong>purado pelo tempo <strong>de</strong><br />
um certo verbalismo inconsistente, do vocábulo colocado no contexto do<br />
poema como um adorno ou simples recurso para complementação da<br />
estrofe, em Alma Antiga, <strong>de</strong> 1922, livro <strong>de</strong> técnica <strong>de</strong>claradamente<br />
parnasiana, comunicando-nos a idéia <strong>de</strong> um medalhão bem cunhado, com<br />
caprichosos recortes bau<strong>de</strong>lairianos, como no soneto “Inverno”:<br />
Revista Volume LI.p65 191<br />
12/5/2009, 15:29