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DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

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A tradição acadêmica _____________________________________________________________ Vivaldi Moreira 209<br />

Eis que agora recordo! Eis revejo e <strong>de</strong>scubro<br />

nuns restos <strong>de</strong> impressões fugitivas e vagas<br />

<strong>de</strong> um passado feliz, há milênios atrás:<br />

– um suave pôr-<strong>de</strong>-sol... um céu violeta e rubro...<br />

um manso mar cantando ao balanço das vagas<br />

e uma estrela a fulgir no horizonte lilás...<br />

O que o poeta não po<strong>de</strong> é viver divorciado da vida, do real. Eis ao<br />

que me oponho tenazmente: a <strong>de</strong>sumanização da arte, que vem assumindo<br />

proporções cada vez maiores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o reinado <strong>de</strong> Mallarmé. Este, quando<br />

falava <strong>de</strong> uma mulher qualquer queria referir-se a “mulher nenhuma”, ou<br />

quando mencionava uma hora qualquer era “a hora ausente do<br />

quadrante.” O verso <strong>de</strong> Mallarmé, <strong>de</strong>ssa forma, se anula em ressonância<br />

vital pela força das negações intrínsecas e pelo anseio <strong>de</strong> fugir <strong>de</strong> tudo<br />

que é humano. O poeta acha-se mergulhado na realida<strong>de</strong> e sua missão é<br />

transportá-la para o plano da metáfora, está certo. Ou como afirmou o<br />

preclaro Ortega y Gasset: – “A poesia é hoje a álgebra superior das<br />

metáforas”, para prosseguir elucidando sua tese da <strong>de</strong>sumanização da<br />

arte, naquele estilo <strong>de</strong> um vigor incomparável pela clareza e esplendor<br />

verbal simultaneamente: – “É sintoma <strong>de</strong> pulcritu<strong>de</strong> mental querer<br />

estabelecer fronteiras rígidas entre as coisas. Vida é uma coisa, poesia é<br />

outra. Não as misturemos. O poeta começa on<strong>de</strong> o homem acaba. O<br />

<strong>de</strong>stino do homem e viver seu itinerário humano; a missão do poeta é<br />

inventar o que não existe. Só <strong>de</strong>sta maneira se justifica o ofício poético.<br />

O poeta aumenta o mundo, acrescentando ao real, que já está aí por si<br />

mesmo, um continente irreal. Autor vem <strong>de</strong> “auctor” – o que aumenta. Os<br />

latinos apelidavam assim ao general que ganhava para a pátria um novo<br />

território.”<br />

Todos nós estamos inseridos na vida. O poeta terá <strong>de</strong> refleti-la em<br />

sua mensagem. Só é realmente poeta aquele que consegue recriar a vida<br />

no plano da metáfora.<br />

Revista Volume LI.p65 209<br />

12/5/2009, 15:29

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