DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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A tradição acadêmica _____________________________________________________________ Vivaldi Moreira 207<br />
do mistério que o poeta preten<strong>de</strong> comunicar. A natureza e o valor <strong>de</strong> uma<br />
mensagem poética <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da iniciação <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>seja sentir, <strong>de</strong> sua<br />
preparação, <strong>de</strong> seu estado <strong>de</strong> alma – também daquela espécie <strong>de</strong> “graça<br />
poética”, <strong>de</strong> que nos falou Henri Bremond. Há dias especiais para se ler<br />
poesia, por exemplo, este fenômeno é comum até a todos nós que não<br />
temos mensagem a transmitir.<br />
Fato curioso na carreira poética <strong>de</strong> Armond é que sendo medularmente<br />
um artista, sua vida <strong>de</strong> criação foi <strong>de</strong>screvendo uma parábola, que é o<br />
inverso <strong>de</strong> vidas como as <strong>de</strong> Bilac, Ban<strong>de</strong>ira ou Drummond. À medida<br />
que caminhava no tempo, Armond, foi seguindo aquele conselho do<br />
clássico Francisco Manuel do Nascimento: – “Resfriamos com a ida<strong>de</strong><br />
acerca <strong>de</strong> versos, não porque <strong>de</strong>sprezemos a poesia, mas porque mais<br />
perfeição lhe <strong>de</strong>sejamos; porque não aturamos o medíocre, <strong>de</strong>pois que<br />
pela reflexão sentimos e pela experiência conhecemos quanta distância<br />
corre entre o medíocre e o excelente.” Ao passo que aqueles poetas<br />
produzem sempre e cada vez melhor, Armond fez quase tudo até aos<br />
vinte e oito ou trinta anos. Dessa data em diante, traduziu poetas<br />
estrangeiros, compôs ocasionalmente. Teria sido a falta <strong>de</strong> estímulo<br />
ambiente, a vida sem ressonância numa cida<strong>de</strong> do interior? Tudo, porém,<br />
nos indica que a amostra dos trinta anos era mais do que uma promessa.<br />
No exemplar <strong>de</strong> Ignotae Deae, que sua família me confiou, acha-se<br />
escrito, com sua letra, esta exclamação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontente, datada <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1957: – “Meu Deus, como foi que não me jogaram no lixo quando<br />
publiquei este livro?”<br />
Bastante severa, profundamente <strong>de</strong>sarrazoada a acerba exclamação,<br />
acor<strong>de</strong>, porém, com o orgulho <strong>de</strong> Armond. Sua preocupação constante<br />
em afirmar sua <strong>de</strong>scrença, sua pobreza e, paralelamente, sua predileção<br />
pela figura do Cristo e temas cristocêntricos, põem em relevo a luta<br />
íntima que triturou essa alma condoreira. Des<strong>de</strong> o soneto “Invocação”,<br />
que ficou tristemente celebre entre os ru<strong>de</strong>s materialistas, os incréus<br />
empe<strong>de</strong>rnidos e que disso fazem galas:<br />
Eu que não creio em ti, ó Nazareno,<br />
Que a crença para mim nada traduz, etc.,<br />
Revista Volume LI.p65 207<br />
12/5/2009, 15:29