DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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Antropólogo e humanista: Franz Boas (1858-1942) ________________________________________ Zanoni Neves 121<br />
colocam-se numa posição hierárquica em frente a outros povos, dizendose<br />
superiores. Assim, justificou-se, por exemplo, a escravidão, o colonialismo<br />
e, até mesmo, o genocídio <strong>de</strong> incontáveis grupos nativos na África<br />
e nas Américas.<br />
Autor do livro Ensaio sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> das raças humanas, o<br />
Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gobineau e seus discípulos, que – vale enfatizar – alimentaram<br />
a i<strong>de</strong>ologia nazista, tiveram suas teses criticadas por Franz Boas no artigo<br />
“Raça e Progresso” (1931):<br />
A questão essencial a ser respondida é se temos qualquer<br />
evidência que indique que os acasalamentos entre indivíduos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência e tipos diferentes resultariam numa prole<br />
menos vigorosa do que a <strong>de</strong> seus ancestrais. Não tivemos<br />
nenhuma oportunida<strong>de</strong> para observar qualquer <strong>de</strong>generação<br />
no homem que se <strong>de</strong>va claramente a essa causa.” (8)<br />
Gobineau argumentava que a mestiçagem enfraquecia as raças,<br />
prevendo que os brasileiros, predominantemente miscigenados, estariam<br />
con<strong>de</strong>nados ao <strong>de</strong>saparecimento. (9)<br />
No artigo acima mencionado, Boas questiona outras manifestações<br />
das i<strong>de</strong>ologias racistas, por exemplo, as tentativas <strong>de</strong> relacionar tipos <strong>de</strong><br />
personalida<strong>de</strong> às raças: “É muito mais difícil obter resultados<br />
convincentes em relação às reações emocionais nas diferentes raças.”<br />
(10) Mais adiante, esclarece: “Não há dúvida <strong>de</strong> que indivíduos diferem a<br />
esse respeito graças à sua constituição biológica. Mas é muito<br />
questionável se o mesmo po<strong>de</strong> ser dito das raças, pois em todas elas<br />
encontramos uma ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>.”<br />
(11) E, em seguida, arremata: “A varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas <strong>de</strong> grupos da<br />
mesma raça, porém culturalmente diferentes, é tão gran<strong>de</strong>, que<br />
provavelmente qualquer diferença biológica existente tem importância<br />
menor.” (12)<br />
No artigo “Os objetivos da pesquisa antropológica”, <strong>de</strong> 1932, o<br />
referido autor argumenta com base em dados <strong>de</strong> pesquisa: “Po<strong>de</strong>mos<br />
dizer com segurança que os resultados do extenso material reunido<br />
Revista Volume LI.p65 121<br />
12/5/2009, 15:29