DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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A tradição acadêmica _____________________________________________________________ Vivaldi Moreira 187<br />
<strong>de</strong>svalido país, me chega às mãos uma carta com referência estimulante a<br />
este ou àquele tópico.<br />
O amor à Pátria e o interesse pelo humano apelam para diversas<br />
formas <strong>de</strong> manifestação. Eles se afirmam mo<strong>de</strong>stamente, pelo cumprimento<br />
dos <strong>de</strong>veres quotidianos, pela <strong>de</strong>voção ininterrupta à causa do povo, pela<br />
filantropia – forma laica da carida<strong>de</strong> – e vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o anônimo contribuinte<br />
que resgata seus impostos até aos paroxismos <strong>de</strong> um Francisco <strong>de</strong> Assis,<br />
<strong>de</strong> um Kosciusko ou <strong>de</strong> uma Joana d’Arc. Quem sente palpitar em si essa<br />
pequena centelha, que po<strong>de</strong> incendiar nações ou construir pacíficas e<br />
po<strong>de</strong>rosas socieda<strong>de</strong>s, avalia bem o sentimento <strong>de</strong> inquietação, <strong>de</strong><br />
angústia, <strong>de</strong> frustração, <strong>de</strong> inutilida<strong>de</strong>, que oprime os entes picados pela<br />
“tzé-tzé” do civismo e não encontram meios, pela pequenez do ambiente,<br />
pela solércia e indiferentismo dos círculos po<strong>de</strong>rosos <strong>de</strong> opinião ou até –<br />
como no meu caso particular, por ausência <strong>de</strong> certos requisitos<br />
personalíssimos – ao negarem-se-lhes condições <strong>de</strong> intervir no governo<br />
da cida<strong>de</strong>. Mas não se represa a água por muito tempo. Mesmo os diques<br />
<strong>de</strong> cimento e ferro que o cálculo matemático constrói <strong>de</strong>ixam sempre os<br />
dispositivos da canalização. O excesso escoa por esse conduto. O<br />
civismo é uma energia sobressalente. Fechem-se as comportas e ele se<br />
extravasa por cima ou por baixo da represa. E o fio d’água invisível po<strong>de</strong><br />
transformar-se em caudal.<br />
Preferi, em função <strong>de</strong> meu temperamento e consultando as<br />
tendências da época, difundir a critica aos costumes através <strong>de</strong> um microjornal.<br />
Só assim po<strong>de</strong>ria manter minha liberda<strong>de</strong> relativa, sem prendê-la<br />
junto a compromissos, por vezes onerosos e vexatórios, e sem recorrer<br />
aos excessos que não são <strong>de</strong> meu feitio moral e intelectual. A propósito<br />
do medíocre, costumo citar sempre aquela máxima <strong>de</strong> Vauvenargues: –<br />
“A perfeição <strong>de</strong> um relógio não consiste em andar <strong>de</strong>pressa, mas em<br />
regular com precisão”. Escolhi, assim, uma forma medíocre – po<strong>de</strong>m<br />
asseverar – mas penosa, <strong>de</strong> pôr em pratica meu indomável sentimento<br />
cívico. Suponho não ser imodéstia irrogar-me tal atributo, numa época<br />
em que a maioria o consi<strong>de</strong>ra qualida<strong>de</strong> negativa, imprópria àqueles que<br />
querem caminhar com certa urgência. Desvaneço-me, porém, <strong>de</strong><br />
confessar, neste momento gratíssimo <strong>de</strong> minha vida, que me sinto<br />
Revista Volume LI.p65 187<br />
12/5/2009, 15:29