DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
114 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
dança bem comportada. Os “assustados” aconteciam naturalmente.<br />
Aconteciam para comemorar alguma coisa inventada por nós mesmos a<br />
partir <strong>de</strong> um motivo qualquer, para festejar um aniversário sem programa,<br />
para confirmar um namoro já autorizado pelos pais da moça, ou então,<br />
apenas para propiciar o início <strong>de</strong> um namorico novo, ainda meio<br />
escondido. O relacionamento moça/rapaz continha muito mais<br />
sentimento do que o <strong>de</strong> hoje, na base do oi, do bicho e do cara. E pior<br />
agora, do ficar.<br />
A abordagem às namoradas era bem complicada. A aproximação,<br />
meio <strong>de</strong>morada e cheia <strong>de</strong> truques. Do vaivém dos footings ao<br />
“ocasional” encontro das mãos, à conversa no portão, até, chegar ao beijo<br />
– um leve toque no rosto ou nos lábios, quando acontecia – levava um<br />
tempão danado. Havia, além do footing, do flirt e das namoradas, as<br />
escapulidas pela noite, em busca da boemia. Preferentemente na Rua dos<br />
Guaicurus e imediações, on<strong>de</strong> ficava a zona boemia, a ida aos cabarés e<br />
ren<strong>de</strong>z-vous, que os mineiros chamavam <strong>de</strong> re<strong>de</strong>vu, a visita, às<br />
escondidas, a alguma daquelas casas suspeitas, muito reservadas e que se<br />
assemelhavam às casas noturnas, tipo “luz vermelha”, dos romances <strong>de</strong><br />
Jorge Amado. Eram fugas que não chegavam a ser rotineiras, porque<br />
<strong>de</strong>pendiam do soldo e da folga. Ainda nem se sonhava com o facilitário<br />
dos atuais motéis. Que diferença! Mas o famoso Cabaré da Olímpia, o<br />
Palácio <strong>de</strong> Cristal ou o Montanhês Dancing eram também lugares <strong>de</strong> boa<br />
diversão e bem frequentados. Depois veio a natural <strong>de</strong>cadência e hoje não<br />
existem mais. Havia, naquela quadra da vida, as românticas serenatas!<br />
Muito em moda no meu tempo o tango argentino, as dolentes modinhas<br />
do nosso cancioneiro, o samba-canção, o chorinho, o bolero. Carlos<br />
Gar<strong>de</strong>l, Pedro Vargas, Francisco Alves, Noel Rosa, Orlando Silva, Sílvio<br />
Caldas, Carmen Miranda e tantos outros gran<strong>de</strong>s intérpretes que<br />
embalaram nossa juventu<strong>de</strong>. E nós, seresteiros improvisados, soltávamos<br />
nossas vozes apaixonadas ao clarão da lua, nas frias noites <strong>de</strong> junho e<br />
julho da Belo Horizonte <strong>de</strong> minha sauda<strong>de</strong>.<br />
Gemia em nossos peitos o coração mineiro trazido, principalmente,<br />
<strong>de</strong> Diamantina, Ouro Preto e Montes Claros, que disputam a autoria <strong>de</strong><br />
canções seresteiras com a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> nasceu Juscelino.<br />
Revista Volume LI.p65 114<br />
12/5/2009, 15:29