DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

O Imperador do Divino _____________________________________________________________ Milton Campos 87
humildade. O Sr. Artur Bernardes tem visto, nos atos e nas palavras do
presidente Antônio Carlos, que os princípios orientadores deste são
justamente opostos aos seus. Basta frisar este vivo contraste: o expresidente,
ao deixar o governo da República, declarou, enfático, que
colocava sua autoridade acima da lei: o Sr. Antônio Carlos, desde que
assumiu o governo mineiro até hoje, não se tem cansado de repetir que
quer ser um juiz, um rigoroso aplicador da lei. O divórcio de princípios
fundamentais é manifesto. Mas o ex-presidente calçou as sandálias de
penitente, renunciou sua pregação de salvação pública e incorporou-se ao
grosso das tropas liberais. Ele é um adesista, que o Sr. Antônio Carlos
pode não querer dispensar. E o que lhe resta de prestígio é pura
aparência, que os homens que sabem ver consideram piedosamente.
Ainda ontem tive ocasião de conversar com um dos mais brilhantes
espíritos de Minas, que sabe sempre tecer um comentário ágil e
malicioso, à margem dos acontecimentos. E ele comparava o Sr. Artur
Bernardes, na atual situação mineira, ao imperador do Divino. “O
Divino” é uma festa religiosa tradicional no interior do estado. Designase
o imperador e no dia da festa, lá vai ele, em procissão, dentro do
quadrado reverente, de cetro e cabeça coroada, para o palanque que serve
de trono. O presidente da Câmara continua sancionando as posturas. O
juiz é quem dá as sentenças. E o delegado quem efetua as prisões. Tudo
continua como dantes. Mas, os símbolos da realeza vestem a pessoa
inócua do Imperador, que ainda tem o ônus da farta mesa de doces aos
cortesãos. O Sr. Artur Bernardes é justamente isso: é o imperador do
Divino da política mineira.
Revista Volume LI.p65 87
12/5/2009, 15:29