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DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

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192 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />

Inverno! Tédio imenso e mórbidos bocejos!<br />

Denso manto brumal sob o céu baixo e triste!...<br />

O coração não pulsa e, indiferente, assiste<br />

À Síncope da luz, do amor e dos <strong>de</strong>sejos...<br />

A leitura <strong>de</strong> um autor aumenta ou diminui sua dimensão, quando a<br />

fazemos sob o imperativo <strong>de</strong>ste ou daquele sentimento.<br />

Ninguém sabe, felizmente, o que guarda cada qual no segredo <strong>de</strong><br />

seu silencio. Se todos soubéssemos o segredo <strong>de</strong> todos o mundo viveria<br />

em guerra permanente. O nosso semelhante é como um cofre fechado<br />

cuja chave se per<strong>de</strong>u. Estamos uns perto dos outros, mas somos<br />

compartimentos estanques. Não existe uma alma que conheça os arcanos<br />

<strong>de</strong> outra. Vivemos como esfinges. E só mostramos uns aos outros a face<br />

superficial da personalida<strong>de</strong>. Ainda as almas chamadas irmãs guardam<br />

esse sigilo in<strong>de</strong>vassável, esse mundo íntimo, muralha intransponível,<br />

santuário que olhos profanos jamais penetrarão. Somos entes solitários<br />

por necessida<strong>de</strong>. E as criaturas aparentemente mais fáceis, são as mais<br />

complexas, as mais misteriosas nas aspirações, nos anseios, nos<br />

propósitos. Tais reflexões, cabíveis a todos nós, vieram-me à mente,<br />

quando lia alguns poemas <strong>de</strong> Paulo Brandão e os comparava a trechos <strong>de</strong><br />

sua vida, contados por aqueles que o conheceram. Foi, em certa época,<br />

um comerciante <strong>de</strong> livros e sempre um inveterado <strong>de</strong>vorador <strong>de</strong>les. O<br />

objeto <strong>de</strong> seu comércio também foi o objeto <strong>de</strong> sua veneração. Atrás do<br />

balcão <strong>de</strong> sua casa comercial, quanto sonhou e, muitas vezes, entre um<br />

freguês e outro, limava um alexandrino, buscava uma rima custosa,<br />

excogitava uma palavra esquiva com tônica apropriada, capaz <strong>de</strong> lhe<br />

permitir a métrica, ou tergiversava entre um ou outro vocábulo, para o<br />

fecho <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> um soneto em gestação. A peça com que abre seu Alma<br />

Antiga, uma espécie <strong>de</strong> artigo <strong>de</strong> fé ou confissão <strong>de</strong> artista, nos transmite<br />

a mensagem integral <strong>de</strong> sua vida, uma autêntica biografia sintética do<br />

poeta:<br />

Revista Volume LI.p65 192<br />

12/5/2009, 15:29

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