DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Aires: uma rica história <strong>de</strong> saber e <strong>de</strong> cultura _______________________________ José Bento Teixeira <strong>de</strong> Salles 35<br />
Foi ela – a <strong>de</strong>ficiência visual – que fortaleceu, no mestre diamantinense,<br />
os atributos <strong>de</strong> sólida cultura que tão nitidamente assinalaram a<br />
sua vitoriosa carreira <strong>de</strong> escritor e mestre.<br />
Amenizemos, pois, as lembranças <strong>de</strong> sofrimento e tristeza, com<br />
subsídios alentadores, a começar do próprio senso <strong>de</strong> humor que<br />
constituía um verda<strong>de</strong>iro escudo, manipulado pelo inesquecível<br />
acadêmico com sábia mestria.<br />
Assim é que ele mesmo criou a história <strong>de</strong> que certa vez estava no<br />
abrigo <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>s a espera do “Santo Antônio” que o levaria para casa.<br />
Ao perceber a chegada do bon<strong>de</strong> e não conseguindo ler o nome da linha,<br />
solicitou a um homem que estava ao seu lado:<br />
– O senhor podia me informar que bon<strong>de</strong> é esse?<br />
– Infelizmente, não, pois eu também sou analfabeto – respon<strong>de</strong>ulhe<br />
o homem.<br />
Um outro episódio – este, <strong>de</strong> profundo conteúdo poético – me foi<br />
narrado pelo seu irmão Fausto. Estando ambos no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a<br />
passeio, pediu-lhe o Aires que o levasse a um velho amigo, cujo en<strong>de</strong>reço<br />
foi entregue ao Fausto. E assim foram os dois, o Aires conhecendo o Rio<br />
melhor do que o seu fraterno guia.<br />
Lá pelas tantas, o Fausto se per<strong>de</strong> e confessa-lhe o engano.<br />
Ele respon<strong>de</strong>, com tranquilida<strong>de</strong>: “Eu percebi que você errou o<br />
caminho <strong>de</strong>pois daquela avenida. Ali então você <strong>de</strong>veria ter entrado na<br />
primeira rua.”<br />
Pasmado, indagou-lhe o irmão:<br />
– Como você percebeu que nós atravessamos uma avenida?<br />
– Pelo vento, Fausto. Pela intensida<strong>de</strong> maior da brisa que só as<br />
avenidas canalizam.<br />
Como é sublime ter sensibilida<strong>de</strong> para ouvir a acariciante voz da<br />
brisa, a gran<strong>de</strong> voz silente da natureza. Assim têm os senhores a noção<br />
exata <strong>de</strong> como essa mesma natureza supre a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> um sentido<br />
com o aprimoramento dos <strong>de</strong>mais.<br />
Para tanto, teria certamente contribuído, o curso por ele feito no<br />
Instituto Benjamin Constant, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, que sedimentou o lastro<br />
cultural que a vida lhe foi oferecendo, no correr dos anos.<br />
Revista Volume LI.p65 35<br />
12/5/2009, 15:29