DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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190 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
Foste linda, Marília, foste amável,<br />
Possuíste mil dotes agradáveis;<br />
Mas o tempo teria mergulhado<br />
Nos abismos do eterno esquecimento<br />
Todos esses encantos, se os suspiros<br />
De um vate apaixonado, mo<strong>de</strong>lados<br />
Ao patético som da acor<strong>de</strong> lira<br />
Não tivessem teu nome eternizado.<br />
Os poetas são, por natureza, os eternizadores dos momentos. O<br />
tempo passa, é irreversível no seu trânsito, mas os poetas existem para<br />
fixá-lo. A própria origem da poesia nos diz que ela surgiu para eternizar o<br />
instante fugaz. É Giambattista Vico, na sua rica e famosa Scienza Nuova<br />
quem nos fala da poesia como a primeira metafísica da humanida<strong>de</strong> em<br />
sua forma lógica e expressional. E Hol<strong>de</strong>rlin, o poeta alemão do século<br />
XIX, em frase lapidar, repetiu-o com muito mais força: – “... o que<br />
permanece, os poetas o fundam, pois poesia é a fundação do ser pela<br />
palavra e na palavra”.<br />
É precisamente este pensamento que vemos traduzido nos versos <strong>de</strong><br />
Beatriz Brandão.<br />
Os aedos distantes e os bardos <strong>de</strong> outrora transmitiam os<br />
acontecimentos <strong>de</strong> geração para geração. Foi graças a Dirceu – o imortal<br />
Tomás Antônio Gonzaga – que hoje Marília existe para nós.<br />
Cultora <strong>de</strong> Metastásio, Beatriz Brandão faz sua poesia obe<strong>de</strong>cer aos<br />
rigores do metro clássico, mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> apresentar cintilações sempre<br />
dignas <strong>de</strong> um estro bem dotado. Muitas <strong>de</strong> suas composições continuam,<br />
suportando as exigências da mais mo<strong>de</strong>rna análise poética.<br />
UM BILAQUIANO: PAULO BRANDÃO<br />
O primeiro ocupante <strong>de</strong>sta ca<strong>de</strong>ira foi o bilaquiano Paulo Brandão.<br />
E quem, no comércio das musas, não o era nas primeira e segunda<br />
décadas do século? Quem ousava divergir daquela amável ditadura?<br />
Tudo, no território poético, teria forçosamente que passar pelo meridiano<br />
Revista Volume LI.p65 190<br />
12/5/2009, 15:29