DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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O teatro performático <strong>de</strong> Hilda Hilst _________________________________________________ É<strong>de</strong>r Rodrigues 163<br />
“A performance revela experiências que fazem o percurso do<br />
pessoal ao comunitário e vice-versa. Este trânsito está<br />
fortalecido por um impulso <strong>de</strong> resistência à dissolução <strong>de</strong><br />
componentes culturais e i<strong>de</strong>ológicos que atuam como<br />
resíduos culturais que integram pessoas a uma região, a uma<br />
paisagem, e que passam a ser pele, olhos, roupa, gestos, fala,<br />
em partituras que se percebem como restos <strong>de</strong> algo maior e<br />
irrecuperável, reproduzível e passível <strong>de</strong> ser re-escrito, mas<br />
que <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong>ve ser restituído a um passado e, ao<br />
mesmo tempo, transmitido ao futuro e relido no presente.” *<br />
Ao mesmo tempo lírica e transgressora, poética e assumidamente<br />
engajada com os meandros da palavra e do teatro, Hilda Hilst cria um<br />
arsenal simbólico <strong>de</strong> personagens que circundam nossa esfera <strong>de</strong><br />
memória e esquecimento, continuida<strong>de</strong>s e rupturas. Remete ao contexto<br />
vivido por ela na época <strong>de</strong> escrita das peças (processo <strong>de</strong> ditadura no<br />
Brasil) e avança no que diz respeito às opressões e censuras ainda<br />
sentidos e vivenciados na contemporaneida<strong>de</strong> em nossos meios sociais e<br />
políticos. A interposição <strong>de</strong> fatos, planos, dito e não dito vão edificando<br />
esta teatralida<strong>de</strong> que se constrói numa dramaticida<strong>de</strong> híbrida <strong>de</strong><br />
projeções, <strong>de</strong>lírios, invisibilida<strong>de</strong>s e constante reflexão sobre a or<strong>de</strong>m<br />
social e suas imposições. Os resquícios <strong>de</strong> ação dramática às vezes são<br />
sumariamente ultrapassados em nome <strong>de</strong> um conflito que se escancara no<br />
<strong>de</strong>ntro, no <strong>de</strong>vastar do indivíduo partindo do seu interno, das forças que o<br />
impe<strong>de</strong>m, do invisível que o cala.<br />
Esta subjetivação fragmentada é o elemento protagonista do teatro<br />
hilstiano, que não estabelece eixos dramáticos plenamente i<strong>de</strong>ntificados<br />
ou apresentados, <strong>de</strong>scarta a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> começo e fim, e na flui<strong>de</strong>z<br />
do silêncio ou da palavra que sai sufocada, cobra os <strong>de</strong>sígnios da fé, da<br />
morte, da injustiça, das impossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um mundo calcado sempre<br />
* Dentre tantas importantes consi<strong>de</strong>rações sobre a performance no âmbito da escrita, é<br />
importante ressaltar estas indicações articuladas por RAVETTI, 2003, p. 34-35.<br />
Revista Volume LI.p65 163<br />
12/5/2009, 15:29