DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

Uma leitura corrida sobre o livro Memórias póstumas de Francisco Badaró, de Murilo Badaró _________ Carmen S. Guimarães 261
ir a Belo Horizonte. “Avizinhava-se o processo eleitoral e eu deveria
preparar-me para disputar as eleições para o Senado Mineiro”, foi o
pedido, quase imposição, do “palinuro, o chefe natural dos homens de
bem de Minas. Bernardes sagrara-se presidente do Estado (governador) e
eu conseguira eleger-me para um mandato que terminaria em 1926,
apesar dos adversários cada vez mais agressivos”.
Pouco tempo depois de atuar como senador em Minas Gerais, já o
governador Arthur Bernardes convocava-o para novo pleito. Deveria
Francisco Badaró voltar a candidatar-se, desta vez a Deputado Federal,
nas eleições de 1920, sempre pelo PRM, na qual saiu mais uma vez
vitorioso.
Não pretendemos estender nossas considerações até os capítulos
finais do livro. A narrativa atinge a sensibilidade do leitor, quando
deparamos com o relato pormenorizado do drama vivido pelo
autobiógrafo, ao ser fatalmente atingido por dolorosa enfermidade. As
dores, e sobretudo, os delírios provocados pela febre fazem-nos lembrar
descrições de grandes escritores, como Machado de Assis, com a
epilepsia, Dostoievski e Goethe, que também usaram na literatura o
mesmo tema. Em certa ocasião, ao receber da enfermeira uma dose de
morfina que o levou a um sono profundo, e desta vez, agradável, viu-se
Francisco transportado para sua velha casa de morada, em Minas Novas,
quando dialogava com o seu antigo proprietário. O homem dizia chamarse
Domingos de Abreu Vieira, que estivera comprometido com o
movimento comandado por Tiradentes. De outra feita, em seu devaneio,
provocado pela injeção que o aliviava dos tormentos da doença, viu-se
em Roma e no Vaticano, diante do Papa Leão XIII, e mais tarde,
defrontando-se com a corpulenta figura do secretário Cardeal Rampolla,
tal como havia acontecido quando fora entregar as credenciais de seu
posto. Ao abrir os olhos, deparou-se com o visitante ilustre e amigo
Arthur Bernardes.
Alguns nomes de celebridades também foram vítimas dessa
moléstia, entre eles, Beethoven, que se diz ter composto a Nona Sinfonia
em momento de delírios. E ainda Shakespeare, Abraham Lincoln, Guy de
Maupassant, Stendhal, Baudelaire, lembra Francisco.
Revista Volume LI.p65 261
12/5/2009, 15:29