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DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

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No meio do caminho: recepção, apropriação e metáfora ___________________________________ Letícia Malard 109<br />

Em trabalho anterior mostramos as incompreensões entre Itabira e<br />

ele, já a partir <strong>de</strong> poemas do primeiro livro. A “vida besta” do poema<br />

“Cida<strong>de</strong>zinha qualquer” metaforizaria certa rejeição. Itabira ser apenas<br />

um retrato na pare<strong>de</strong>, doendo, em “Confidência do itabirano”, foi<br />

interpretado como <strong>de</strong>sprezo, distanciamento e indiferença do poeta em<br />

relação a sua cida<strong>de</strong>. Os poemas <strong>de</strong>nunciadores da exploração do minério<br />

pela Vale do Rio Doce no município também foram tidos por muitos<br />

como difamação da cida<strong>de</strong>, cuja economia girava em torno daquela<br />

empresa, gerando centenas <strong>de</strong> empregos para os munícipes.<br />

Chegou a haver uma época em que se noticiou ser Drummond<br />

persona non grata em sua própria terra. Lembre-se que ele a <strong>de</strong>ixou em<br />

1926 e voltou em 1954 pela última vez, tendo falecido em 1987. Justificava<br />

a ausência por questões sentimentais: iria encontrar uma cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconhecida, que não era a dos quatro mil habitantes da sua infância –<br />

cida<strong>de</strong> essa, do passado remoto, que amava e poetizava em larga escala.<br />

Somente no início dos anos 80 esse quadro <strong>de</strong> equívocos foi<br />

repintado. Fundou-se na cida<strong>de</strong> um jornal – O Cometa Itabirano – que<br />

entrou em contato com o poeta e recebeu <strong>de</strong>le apoio e colaborações,<br />

muitas <strong>de</strong>las inéditas. A partir daí foram retomadas suas relações afetivas<br />

com a cida<strong>de</strong>, novos poemas e crônicas foram escritos tematizando-a e a<br />

seus habitantes, do passado e do presente. Nos tempos atuais, feitas as<br />

pazes, Itabira e seus habitantes se orgulham do filho ilustre, contam com<br />

uma fundação cultural que leva seu nome e um museu a céu aberto para<br />

homenageá-lo. 16 Dessa forma, a pedra do distanciamento e da indiferença<br />

foi removida do caminho.<br />

Mas, a segunda pedra metafórica permaneceu atravancando o seu<br />

caminho até à morte: o público docente e discente, estudantes <strong>de</strong> todos os<br />

níveis, o incomodavam em casa ou o cercavam na rua e nos locais que<br />

frequentava, a mando <strong>de</strong> professores, para entrevistá-lo como trabalho<br />

escolar. Como se não bastasse, muitas <strong>de</strong>ssas pessoas lhe eram<br />

16 Cf. MALARD, Letícia. No vasto mundo <strong>de</strong> Drummond. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.<br />

p. 46 e segs. Aí se <strong>de</strong>talham as relações entre Drummond e Itabira, <strong>de</strong>sfazendo-se inclusive<br />

certos equívocos interpretativos.<br />

Revista Volume LI.p65 109<br />

12/5/2009, 15:29

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