DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
140 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
personalida<strong>de</strong> e, sem temer o excesso <strong>de</strong> experimentalismo, <strong>de</strong>ixou<br />
profunda marca particular na arte <strong>de</strong> seu tempo.<br />
Para além do âmbito da individualida<strong>de</strong> dos artistas enfocados,<br />
Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, nos dois artigos, outra premissa <strong>de</strong> suas<br />
idéias estéticas — a <strong>de</strong> que a música, a mais coletiva das artes, mostra-se<br />
também a mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das condições sociais do meio O poeta<br />
observa, por exemplo, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo os escritores brasileiros<br />
escreveram e imprimiram livros, sem que tivéssemos tipografias,<br />
buscando-as on<strong>de</strong> elas existiam. Também os artistas plásticos po<strong>de</strong>m<br />
importar ou criar seu material <strong>de</strong> trabalho, tintas, óleos, mármore, bronze,<br />
por iniciativa própria e, às vezes, até contra a aparente vonta<strong>de</strong> da<br />
coletivida<strong>de</strong>. Uma orquestra, entretanto, sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da existência<br />
<strong>de</strong> um mecenas, seja a Igreja ou o Estado (cf. ANDRADE, Aspectos da<br />
Música brasileira: 11).<br />
Dentro <strong>de</strong>sse raciocínio, no estudo sobre o músico padre, o escritor<br />
se <strong>de</strong>terá em uma análise do ambiente musical carioca, nas possíveis<br />
influências <strong>de</strong> outros compositores (Bach, Haydn, Mozart, Beethoven),<br />
no gosto do público, nos instrumentos da época. Já no estudo sobre o<br />
escultor mineiro, Mário valorizará a criativida<strong>de</strong> e o experimentalismo do<br />
Aleijadinho diante da tradição européia herdada. O escritor reclama,<br />
inclusive, da inaptidão dos críticos estrangeiros, que, àquela época,<br />
mostraram-se incapazes <strong>de</strong> perceberem positivamente a originalida<strong>de</strong> do<br />
artista barroco.<br />
O texto do artigo Padre José Maurício, incluído em Música, doce<br />
música, exemplifica a alternância dialógica <strong>de</strong> gêneros literários, prática<br />
freqüente em Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. A ausência <strong>de</strong> critério genérico, longe<br />
<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>feito, torna-se aqui qualida<strong>de</strong>, um índice <strong>de</strong> valor. No ensaio<br />
sobre o padre compositor, Mário faz um pouco <strong>de</strong> análise musical,<br />
biografia, estudo musicológico, crítica social, além <strong>de</strong> inserir o músico<br />
em uma perspectiva histórica nacionalista. O escritor, por meio <strong>de</strong> uma<br />
orquestração bem timbrada, <strong>de</strong>ixa que gêneros e estilos dialoguem,<br />
revitalizando-se e iluminando-se uns aos outros em verda<strong>de</strong>ira polifonia<br />
discursiva. A literarieda<strong>de</strong> fun<strong>de</strong>-se, assim, aos propósitos referenciais do<br />
ensaio.<br />
Revista Volume LI.p65 140<br />
12/5/2009, 15:29