DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
184 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
na Literatura o gosto impecável, a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, a finura do tom sóbrio, as<br />
purezas <strong>de</strong> forma, o <strong>de</strong>coroso comedimento, todas as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
distinção, <strong>de</strong> proporção e <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m.”<br />
Que fiz eu para vestir a toga praetexta, compartilhar do vosso<br />
convívio e participar <strong>de</strong> vossas <strong>de</strong>cisões irrecorríveis?<br />
Este gesto da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> calou mais fundo em mim e me sobrecarrega<br />
<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, porque veio quando sua tradição quinquagenária já<br />
<strong>de</strong>purou os excessos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, preenchendo os requisitos exigidos na<br />
feliz observação <strong>de</strong> Joaquim Nabuco: – “As <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>s como tantas<br />
outras coisas precisam <strong>de</strong> antiguida<strong>de</strong>. Uma <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> nova é como uma<br />
religião sem mistérios: falta-lhe solenida<strong>de</strong>.”<br />
Por isso, surpreendi-me, quando alguns <strong>de</strong> vós – amigos diletos –<br />
me animaram a solicitar o sufrágio dos <strong>de</strong>mais. A tradição me infundia<br />
respeito, e o apreço pelos homens que compõem este sodalício jamais o<br />
escondi. Aqui se abriga, como sempre acolheu no passado, um pugilo <strong>de</strong><br />
homens que pensam com serieda<strong>de</strong> e, sem lisonja, os que melhor<br />
manejam a língua, no Brasil, na prosa ou no verso, como romancistas,<br />
historiadores, ensaístas, críticos, cronistas, filólogos, poetas, jornalistas,<br />
magistrados, juristas, homens <strong>de</strong> Estado – plêia<strong>de</strong> eminentíssima,<br />
genuína colmeia do mais puro e luminoso humanismo <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
Como po<strong>de</strong>ria o insípido e <strong>de</strong>sgracioso rabiscador <strong>de</strong> bagatelas literárias<br />
preten<strong>de</strong>r transpor este limiar? Para meu ingresso aqui só encontro dois<br />
motivos: vossa generosida<strong>de</strong> sem par e a velha aspiração, que não<br />
quisestes <strong>de</strong>sapontar, no incansável trabalhador das letras, sem brilho,<br />
sem galas, sem louçanias verbais.<br />
Vós sempre po<strong>de</strong>is mais do que supomos, Senhores Acadêmicos. A<br />
tradição das <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>s é acolher, por esta ou aquela razão, aqueles que<br />
lhes são afeiçoados. Lembro-me neste instante – perdoai-me a<br />
comparação, que se não aproxima do paralelo – do celebre episódio <strong>de</strong><br />
De Lesseps, na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Francesa. As rodas sociais e certa porção da<br />
imprensa parisiense se opuseram ao ingresso na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> do engenheiro<br />
que rasgou o adusto solo africano, para ligar o Mediterrâneo ao Mar<br />
Vermelho, qual novo Moisés, fazendo jorrar as águas, canalizando a<br />
riqueza dos Continentes. Renan ao recebê-lo, no portal da imortalida<strong>de</strong><br />
Revista Volume LI.p65 184<br />
12/5/2009, 15:29