DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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144 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
“virtuosi”. A música religiosa virara espetáculo e os efeitos fáceis <strong>de</strong><br />
orquestração eram obrigatórios. Mário reconhece no compositor o mérito<br />
<strong>de</strong>, “<strong>de</strong>ntro das perdições daquele tempo, conservar um firme, encantado,<br />
suave sabor religioso”. (ANDRADE, op. cit.: 139)<br />
Percebe-se, também, no artigo, uma preocupação que será<br />
constante para o crítico musical: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situar os músicos<br />
brasileiros no panorama universal. Para tanto, vale-se da referência <strong>de</strong><br />
Kinsey no seu Portugal Illustrated, publicado em 1828, afirmando que<br />
José Maurício era “well known and even much respected at Lisbon”. (id.<br />
ibid.)<br />
Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, após um inventário geral da obra <strong>de</strong> José<br />
Maurício, ressalta a gran<strong>de</strong> doçura e a humilda<strong>de</strong> do padre, terminando o<br />
artigo numa espécie <strong>de</strong> fusão do criador com sua criação – do músico,<br />
com sua música:<br />
Gênio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> suavida<strong>de</strong>, duma invenção melódica<br />
apropriada e elevada (...) como expressivida<strong>de</strong> geral é quase<br />
sempre doce, humil<strong>de</strong>, sem gran<strong>de</strong>s arrancadas místicas nem<br />
êxtases divinos.<br />
(...) Niti<strong>de</strong>z melódica, boa sonorida<strong>de</strong>, comedimento<br />
equilibrado, escritura eminentemente acordal, sem individualismo.<br />
Foi o maior artista da nossa música religiosa, mas<br />
não ultrapassou o que faziam no gênero os italianos do<br />
tempo. E isso, universalmente, era pouco. (ANDRADE, op.<br />
cit.: 142)<br />
O artigo, cumprida sua homenagem ao músico, termina atualizado<br />
para sua época, reconhecendo como legitimamente brasileira a música do<br />
padre, pois que, mesmo <strong>de</strong>spida <strong>de</strong> caráter étnico, mostra-se marcada por<br />
uma fatalida<strong>de</strong> cultural.<br />
Um outro artista brasileiro, do período colonial, terá gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>staque na apreciação <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> – Antônio Francisco<br />
Lisboa. Mulato, como o padre José Maurício, ao contrário <strong>de</strong>sse, o<br />
arquiteto e escultor mineiro mostrar-se-á muito pouco dócil diante do seu<br />
Revista Volume LI.p65 144<br />
12/5/2009, 15:29