DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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118 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
predominantes na física e na geografia: o interesse pela observação<br />
empírica, pelo trabalho <strong>de</strong> campo, a produção do conhecimento<br />
sistemático e objetivo, etc. Mas não se po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista as origens <strong>de</strong><br />
Boas, <strong>de</strong>terminantes em sua formação intelectual: ju<strong>de</strong>u vivendo na<br />
Alemanha, foi vítima <strong>de</strong> preconceito anti-semita. Experimentou,<br />
portanto, a condição <strong>de</strong> etnia minoritária submetida à discriminação<br />
racial. Essa experiência contribuiu para sua formação intelectual como<br />
antropólogo, na medida em que lhe possibilitou o estranhamento <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ologias discriminatórias, favorecendo-lhe a interpretação da realida<strong>de</strong><br />
sociocultural vivenciada por outras minorias como os negros e índios<br />
americanos, submetidos ao preconceito racial.<br />
A ciência e o exercício da crítica<br />
É importante contextualizar a época em que viveu Franz Boas;<br />
sobretudo, mencionar o estádio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da ciência<br />
antropológica, na qual – vale lembrar – predominava o evolucionismo<br />
cultural: segundo esta orientação teórica, as socieda<strong>de</strong>s humanas<br />
passariam pelos estágios <strong>de</strong> selvageria e barbárie até alcançar a<br />
civilização. Em 1896, Boas escreveu o artigo “As limitações do método<br />
comparativo da antropologia” em que <strong>de</strong>senvolve uma crítica ao<br />
evolucionismo unilinear, argumentando em favor <strong>de</strong> estudos históricoculturais<br />
específicos para cada socieda<strong>de</strong>, cujo “processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento”<br />
<strong>de</strong>veria ser investigado:<br />
Não se po<strong>de</strong> dizer que a ocorrência do mesmo fenômeno<br />
sempre se <strong>de</strong>ve às mesmas causas, nem que ela prove que a<br />
mente humana obe<strong>de</strong>ce às mesmas leis em todos os lugares.<br />
Temos que exigir que as causas a partir das quais o fenômeno<br />
se <strong>de</strong>senvolveu sejam investigadas, e que as comparações se<br />
restrinjam àqueles fenômenos que se provem ser efeitos das<br />
mesmas causas. Devemos insistir para que essa investigação<br />
seja preliminar a todos os estudos comparativos mais<br />
amplos. (1)<br />
Revista Volume LI.p65 118<br />
12/5/2009, 15:29