DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O Padre José Maurício, o Aleijadinho e Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> __________________ Paulo Sérgio Malheiros Santos 147<br />
vanguardista <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestabilizar as velhas “fôrmas” artísticas impostas pela<br />
colonização. A nação, para Mário, só se afirmaria pela criativida<strong>de</strong>, pela<br />
invenção <strong>de</strong> uma cultura particular, cujas raízes <strong>de</strong>veríamos procurar na<br />
arte colonial, on<strong>de</strong> o Barroco ocupava um lugar privilegiado. O escritor<br />
unia-se, assim, às vanguardas latino-americanas que, no início do século<br />
XX, retomam a consciência da vocação do Continente na construção do<br />
mundo mo<strong>de</strong>rno. A América, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu <strong>de</strong>scobrimento, se ligara à i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> como o Novo Mundo – a diferença – da mesma maneira<br />
como o Oriente e a África representavam a ancestralida<strong>de</strong>. O passado<br />
colonial teve para os mo<strong>de</strong>rnistas americanos o idêntico significado <strong>de</strong><br />
novida<strong>de</strong> que a América para os europeus. Vários manifestos latinoamericanos<br />
re<strong>de</strong>scobrem, então, as já velhas e coloniais tradições como o<br />
“atual”, colocando-as ao lado do progresso tecnológico, industrial e<br />
da apologia da máquina. E é sintomático que Mário, nas poucas<br />
viagens <strong>de</strong> sua vida, troque o cosmopolitismo <strong>de</strong> sua querida São<br />
Paulo pela busca do passado “novo”. Em 1917 fora a Mariana; em<br />
1924, integra a expedição mo<strong>de</strong>rnista em visita às cida<strong>de</strong>s históricas<br />
mineiras; em 1927 vai à Amazônia; e, na virada <strong>de</strong> 1928 para 29,<br />
viaja ao Nor<strong>de</strong>ste.<br />
No artigo sobre o Aleijadinho, Mário retoma a questão da<br />
mestiçagem, sob um enfoque ampliado. O escultor mineiro seria mestiço<br />
<strong>de</strong> raça e <strong>de</strong> influências:<br />
Ele coroa, como gênio maior, o período em que a entida<strong>de</strong><br />
brasileira age sob a influência <strong>de</strong> Portugal. É a solução<br />
brasileira da Colônia. É o mestiço e é logicamente a<br />
in<strong>de</strong>pendência. (...) Mas abrasileirando a coisa lusa, lhe<br />
dando graça, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e <strong>de</strong>ngue na arquitetura, por outro<br />
lado, mestiço, ele vagava no mundo. Ele reinventava o<br />
mundo. O Aleijadinho lembra tudo! Evoca os primitivos<br />
itálicos, bosqueja a Renascença, se afunda no gótico, quase<br />
francês por vezes, muito germânico quase sempre, espanhol<br />
no realismo místico. (...) É um mestiço, mais que um<br />
nacional. Só é brasileiro porque, meu Deus! aconteceu no<br />
Revista Volume LI.p65 147<br />
12/5/2009, 15:29