DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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148 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
Brasil. E só é o Aleijadinho na riqueza itinerante das suas<br />
idiossincrasias. E nisto o principal é que ele profetizava<br />
americanamente o Brasil ... (ANDRADE, op. cit.: 42)<br />
O mestiço, sem raça, era mais “livre” para se apossar <strong>de</strong> influências<br />
diversas. É justamente este sincretismo <strong>de</strong>mocrático que permitirá ao<br />
Aleijadinho libertar-se <strong>de</strong> um maneirismo imitativo e acadêmico,<br />
levando-o a uma reinterpretação pessoal, mais ousada e livre, <strong>de</strong> um<br />
cânone consagrado e repetido à exaustão nos mo<strong>de</strong>los da escultura dos<br />
Setecentos. Em alguns momentos, a valorização <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>talhes<br />
anatômicos sugere o exemplo dos ex-votos populares, como no<br />
expressionismo <strong>de</strong> algumas figuras dos Passos <strong>de</strong> Congonhas.<br />
Essa associação do barroco mineiro ao expressionismo alemão será<br />
preciosa para Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, permitindo-lhe apresentar o nosso<br />
passado barroco como uma antecipação <strong>de</strong> uma estética vanguardista e<br />
européia.<br />
A associação dos dois momentos históricos consistia uma ousada<br />
inovação crítica andradiana. O talento pessoal e o experimentalismo do<br />
Aleijadinho causavam espanto e sua obra era, até então, sinônimo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sequilíbrio estético. Por exemplo, o escritor Bernardo Guimarães,<br />
nascido em Ouro Preto, em seu romance O seminarista, publicado em<br />
1872 e ambientado em Congonhas do Campo, refere-se aos Profetas<br />
como uma obra bizarra <strong>de</strong> um artista limitado por <strong>de</strong>formações físicas. O<br />
julgamento do romancista mineiro torna-se mais interessante pelo fato <strong>de</strong><br />
o escritor residir, então, em Ouro Preto e por ter sido escrito apenas<br />
cinquenta e oito anos após a morte do Aleijadinho. Bernardo Guimarães<br />
adotava, em sua crítica, os critérios plásticos do neoclassicismo imposto<br />
entre nós pela Missão Artística Francesa <strong>de</strong> 1816. De fato, o reconhecimento<br />
da arte colonial brasileira só foi possível com o final da belle époque,<br />
quando o gosto acadêmico burguês começou a fraquejar diante das<br />
investidas mo<strong>de</strong>rnistas. O artigo <strong>de</strong> Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> tem, portanto, o<br />
duplo mérito <strong>de</strong> resgatar o barroco do <strong>de</strong>sdém neoclássico e <strong>de</strong> ser o<br />
primeiro ensaio <strong>de</strong> análise artística e interpretação social da obra do<br />
Aleijadinho.<br />
Revista Volume LI.p65 148<br />
12/5/2009, 15:29