DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A tradição acadêmica _____________________________________________________________ Vivaldi Moreira 211<br />
O EXPERIMENTO NÃO LOGRADO<br />
Outro aspecto <strong>de</strong> Armond, que <strong>de</strong>ixamos para o final, por não ter<br />
significação nenhuma, e nem acrescentar qualquer dimensão à sua figura<br />
<strong>de</strong> poeta, são as composições em francês. Apesar da conspícua autorida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> mestre Eduardo Frieiro, esses versos <strong>de</strong> Armond, bem medidos,<br />
melodiosos alguns, não passam <strong>de</strong> meros exercícios verbais. Nada<br />
faremos fora da língua que bebemos com o leite materno. A<strong>de</strong>mais,<br />
possuímos uma bela língua e nela <strong>de</strong>vemos verter nossas mágoas, nossas<br />
alegrias, nossos anelos e <strong>de</strong>silusões, como fez, aliás, Eduardo Frieiro, na<br />
crítica que <strong>de</strong>dicou a Armond sobre seu volume Les voix et les Bonheurs,<br />
e diz bem: – “Motejar dos que escrevem versos em francês, é fácil;<br />
escrevê-los é um pouco mais difícil”. De fato, é tarefa bastante ru<strong>de</strong> arcar<br />
com o peso do dicionário francês e cair no mau gosto <strong>de</strong> meter num<br />
verso, para efeito <strong>de</strong> rima, um vocábulo que poeta algum daquela língua<br />
jamais escreveria. Armond, emérito conhecedor da língua <strong>de</strong> Racine, bem<br />
sabia disso e teria praticado seu exercício para se afirmar no meio<br />
provinciano. Os que leram a obra <strong>de</strong> Arnold Toynbee conhecem agora<br />
que, tanto no plano das nações como no dos indivíduos, há a teoria do<br />
<strong>de</strong>safio e da resposta. A afirmação do valor cultural <strong>de</strong> Armond<br />
manifestar-se-ia através dos sonetos franceses que compôs. O incomparável<br />
Nabuco teve também seu momento <strong>de</strong> fraqueza compondo Les pensées<br />
<strong>de</strong>tachés. São versos bem feitos os <strong>de</strong> Les voix et les Bonheurs, mas estão<br />
longe <strong>de</strong> ombrear sequer com os <strong>de</strong> Ignotae Deae.<br />
Po<strong>de</strong>r-me-eis objetar com a poesia tutelar <strong>de</strong> José Maria <strong>de</strong><br />
Heredia, poeta cubano, francês por adoção. Acontece que Heredia foi<br />
para a França, lá viveu e ali escreveu ao Trophées. Além da ascendência<br />
francesa <strong>de</strong> sua mãe, Heredia foi cedo para o País <strong>de</strong> Victor Hugo e ali<br />
trabalhou seu estro. Diferente é o caso <strong>de</strong> Armond e <strong>de</strong> outros que, entre<br />
nós, prestam sua homenagem ao idioma que apren<strong>de</strong>mos a amar por ser o<br />
veículo <strong>de</strong> idéias peregrinas, <strong>de</strong> admiráveis versos, <strong>de</strong> teorias apaixonantes,<br />
<strong>de</strong> páginas que guardamos em nosso mais recôndito relicário. Os versos<br />
franceses <strong>de</strong> Armond po<strong>de</strong>m revelar “une qualité exquise” como<br />
asseverou o Sr. Eduardo Frieiro, porém, nada mais alem disso. Para ser<br />
Revista Volume LI.p65 211<br />
12/5/2009, 15:29