16.04.2013 Views

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O Padre José Maurício, o Aleijadinho e Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> __________________ Paulo Sérgio Malheiros Santos 141<br />

José Maurício conhecia bem seu ofício (dizem que possuía a<br />

melhor biblioteca musical do Brasil colônia) e, <strong>de</strong>ntro dos limites do<br />

meio carioca, certamente foi o mais bem-sucedido dos nossos músicos.<br />

Entretanto, quanto ao experimentalismo, caracterizador da inquietação do<br />

“talento individual”, o padre se mostrará pouco ousado, conformando-se<br />

ao estilo imposto pelo ambiente social. Mário nos retrata um artista<br />

submisso a seus mecenas, avesso a polêmicas, doce <strong>de</strong> temperamento. E<br />

se o padre <strong>de</strong>ixou uma marca pessoal em sua música, esta assinatura<br />

traduz, justamente, a suavida<strong>de</strong> e a gentileza <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>: em<br />

uma música sacra corrompida pelos efeitos operísticos, o compositor<br />

manteve uma serenida<strong>de</strong> religiosa que o diferenciou entre seus pares.<br />

Escrito em 1930, por ocasião do centenário da morte do padre, o<br />

artigo inicia-se com a constatação crítica <strong>de</strong> que, diante da indiferença do<br />

país para com o seu músico, a celebração <strong>de</strong>ssa data só po<strong>de</strong>ria ser meia<br />

vaga e amarga. De fato, pouco conhecemos da vasta obra <strong>de</strong> José<br />

Maurício; além <strong>de</strong> duas missas impressas, a <strong>de</strong> Requiem e a em Si Bemol,<br />

mais algumas cópias, péssimas, <strong>de</strong> outras obras. E, mesmo esse pouco,<br />

<strong>de</strong>vemos às iniciativas particulares <strong>de</strong> escritores e, principalmente, ao<br />

músico Alberto Nepomuceno, já que nossos governos vivem seus<br />

brinquedos perigosos <strong>de</strong> política, sem beneficiar aos que nos <strong>de</strong>vem ser<br />

caros pelo que <strong>de</strong> Brasil e por nós fizeram. (ANDRADE, op. cit.: 132)<br />

O seguimento do artigo conta a infância do Pe. Maurício, e,<br />

após alguns dados biográficos (data <strong>de</strong> nascimento, nome dos pais),<br />

apoiado na documentação <strong>de</strong> cronistas da época, o escritor apresenta<br />

um panorama musical do Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> cresceu o futuro<br />

compositor:<br />

Filho <strong>de</strong> preto sabe cantar. No Rio a era das Modinhas<br />

estava se intensificando e um eco vago dos salões <strong>de</strong>via<br />

chegar até a rua da Vala on<strong>de</strong> o mulatinho nascera. De resto<br />

as ruas ressoavam com os cantos dos escravos seminus, aos<br />

grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z a doze, movendo-se a compasso com os seus<br />

cantos, ou antes gritos, a carregar em gran<strong>de</strong>s varais cargas<br />

pesadas e todas as mercadorias do porto. Esse canto <strong>de</strong>via<br />

Revista Volume LI.p65 141<br />

12/5/2009, 15:29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!