16.04.2013 Views

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

240 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />

A todos premiou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o corvo-rei das lapas abruptas ao noitibó<br />

dos caminhos rasos. Ensinou-lhes a tecer o ninho <strong>de</strong> úsnea e arminhos<br />

quentes. Se afiou as garras aos rapaces, seu ligeireza ao voo das<br />

andorinhas. Como antes <strong>de</strong>ra orvalho às ervas que pisara, a compensarlhes<br />

a maciez, mandara cair agora às sementes maduras para o cibo <strong>de</strong><br />

seus irmãos pássaros. Aos guaxos, tão ambicionados pela sua cor tão<br />

linda, mandou fizessem <strong>de</strong> musgos e raízes os ninhos longos, mas sempre<br />

suspensos sobre abismos e rios fundos, nos galhos pendidos, para que às<br />

mães não os roubassem. Deu pio grave às urus e jaós por que,<br />

voando pouco, não lhes fossem escutados os gemidos <strong>de</strong>ntro das<br />

matas virgens. Tendo assim adaptado as aves a uma vida tranquila,<br />

pôs-se a palmilhar os ermos on<strong>de</strong> apenas as flores da murta caíssem à sua<br />

cabeça.<br />

Certa vez sentiu se<strong>de</strong>. Descendo a uma fonte da floresta, encontrou<br />

uma mulher velha e cega, chorando com o cântaro vazio, na barranca. E<br />

contou-lhe que a filha moça fugira naquela tar<strong>de</strong> com um saltimbanco<br />

para a vida das feiras. Morta a filha sua alegria seria imensa, em vez <strong>de</strong> a<br />

saber fora <strong>de</strong> seu coração, ciganeando o brio.<br />

Só havia estrelas no côncavo do céu. Porque fosse boa a sua alma,<br />

Jesus sorriu, mostrando no alto, pois naquele instante estava a moça<br />

transformada em lua nova, longe, no azul...<br />

Jesus, não as querendo separadas, a um sopro transformou a velha<br />

em uma ave gran<strong>de</strong>. Queria alçá-la ao céu, dando-lhe às asas manchadas<br />

<strong>de</strong> negro e branco o po<strong>de</strong>r milagroso <strong>de</strong> alcançar a lua...<br />

Mas, tendo pressa <strong>de</strong> salvar um tronco do gume <strong>de</strong> um lenhador,<br />

mandou que a ave O esperasse. A Mãe-da-Lua, então, pousada num<br />

tronco, esperou pelo que partira. À noite a lua esplen<strong>de</strong>u, milionária, no<br />

azul triste. Alvoroçaram-se até as feras à sua beleza estupenda. Tigres<br />

urravam, espantados sob o clarão novo.<br />

A ave, perpetuamente estática para o céu, tonta do plenilúnio,<br />

bêbada <strong>de</strong> azul, absorta na amplidão, tem nessa atitu<strong>de</strong> misteriosa aspecto<br />

<strong>de</strong> quem vê um sonho muito ao longe, e <strong>de</strong> quem ouve chamados que não<br />

po<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r.<br />

Alguém ven<strong>de</strong>ra, porém, o homem perfeito.<br />

Revista Volume LI.p65 240<br />

12/5/2009, 15:29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!