DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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180 _______________________________________________ R<strong>EVISTA</strong> <strong>DA</strong> A<strong>CADEMIA</strong> M<strong>INEIRA</strong> DE L<strong>ETRAS</strong><br />
histórias e os personagens que Joãozito guardou na memória, colhidos no<br />
balcão da venda <strong>de</strong> seu pai, o Seu Fulô. Da convivência diária, o menino<br />
<strong>de</strong> vista curta – hipermetropia – apren<strong>de</strong>u a ver e ouvir o além das<br />
palavras, das histórias, as várias texturas embutidas nos segredos <strong>de</strong> vida,<br />
as transcendências. As transcendências não são passiveis <strong>de</strong> tradução,<br />
pois elas veem do acúmulo, da entrega ao tempo, ao sentimento, um<br />
aprofundamento das várias razões que as próprias razões não ousam<br />
compreen<strong>de</strong>r, interpretar, apenas sorver o gosto impalpável do<br />
improvável instante. São assim verda<strong>de</strong>s reflexivas, vivas no sem-fim da<br />
poesia do momento. E é esse momento que Rosa apren<strong>de</strong>u a captar, a<br />
ruminar, a reinventar, a nos dar a sua forma acabada, nunca terminada.<br />
A cida<strong>de</strong>, trazia-a no coração, com seus cacos e seus casebres, tudo<br />
tão pequeno que cabia em uma só palavra: Cordisburgo. E foi aí que ele<br />
bebeu o mágico, o fantástico, o impon<strong>de</strong>rável, a dor <strong>de</strong> um pequeno<br />
universo imergido entre as casas do burgo incrustado em seu coração.<br />
Para <strong>de</strong>scortinar a profundida<strong>de</strong> impalpável embebida em uma impensável<br />
verda<strong>de</strong>, o batismo surreal em uma pia bastimal arrancada das<br />
profun<strong>de</strong>zas da Gruta <strong>de</strong> Maquiné, o princípio do início <strong>de</strong> tudo.<br />
Diadorim é o dia dourado, aquela <strong>de</strong> beleza sem fim. Nasceu assim para<br />
ser encantada, diferente, nos mostrar o que está em nós e muito acima <strong>de</strong><br />
nós. São dois lados, dois caminhos, ambos, sem fim. Intraduzíveis, vivos<br />
apenas no silêncio <strong>de</strong> sua dor, <strong>de</strong> seu conflito percebido. Basta seu<br />
silêncio rosiano para <strong>de</strong>scortinar o sofrimento <strong>de</strong> uma existência,<br />
preenchida pela dor que, talvez, floriu em Rosa.<br />
Como ousar esmiuçar algo tão intrínseco, tão fugaz, tão grandioso<br />
em sua substancial imaterialida<strong>de</strong>? O gênio se eleva para <strong>de</strong>monstrar o<br />
que ele escondia <strong>de</strong> si mesmo. É <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong>scomunal, celestial,<br />
apenas o bocejo <strong>de</strong> um insondável mistério.<br />
Rosa está em si com um livro aberto para o <strong>de</strong>sconhecido. Parece<br />
dizer, com a paz dos buritizais, que não é permitido esmiuçar o que já<br />
tanto foi repensado, ruminado, reescrito e garimpado. O mistério não é a<br />
pedra lapidada, mas o brilho dos olhos das pessoas refletido nela, aquele<br />
que foi consumido pela materialida<strong>de</strong> das coisas do nossa pequeno<br />
mundo, tão pobre <strong>de</strong> transcendências...<br />
Revista Volume LI.p65 180<br />
12/5/2009, 15:29