DA EVISTA CADEMIA INEIRA ETRAS - Academia Mineira de Letras
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Nós, a outra rapaziada _________________________________________________ Affonso Heliodoro dos Santos 115<br />
As poéticas serenatas são costumes <strong>de</strong>ssas alegres e românticas<br />
cida<strong>de</strong>s. Diamantina, pelo seresteiro-mor que foi o nosso saudoso JK,<br />
ainda ostenta o título <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>-rainha da boa e romântica seresta. O<br />
nosso Juscelino, um pouco mais velho do que a Rapaziada <strong>de</strong> Werneck<br />
encantava-se com as noites <strong>de</strong> luar e ressentia-se <strong>de</strong> sua falta nas noites<br />
escuras <strong>de</strong> novilúnio. Noites tristes sem seresteiros, sem serenatas. Sem<br />
namoradas, sem romance.<br />
E íamos nós, cantores apaixonados, sob as janelas das namoradas,<br />
<strong>de</strong> rua em rua, <strong>de</strong> casa em casa, <strong>de</strong>rramando nossos amores, nas vozes<br />
nem sempre muito afinadas, mas enchendo <strong>de</strong> romance as noites e os<br />
corações das donzelas <strong>de</strong>spertadas no <strong>de</strong>lírio das <strong>de</strong>clarações amorosas<br />
<strong>de</strong> seus cantores noturnos. Nessa época o fox-trot e as canções<br />
americanas, trazidas pelos gran<strong>de</strong>s musicais <strong>de</strong> Hollywood, já<br />
começavam a lotar os cinemas da cida<strong>de</strong>. Jeannette MacDonald, Nelson<br />
Eddy, Martha Eggert, Fred Astaire, Ginger Rogers, Bing Crosby, Cyd<br />
Charisse, Ukulele Ike – o primeiro que interpretou a canção Cantando na<br />
Chuva num musical <strong>de</strong> 1929, mas só apresentado em BH na década <strong>de</strong> 30<br />
– transformada <strong>de</strong>pois num clássico da música americana, na magnífica<br />
interpretação <strong>de</strong> Gene Kelly, no belo filme Cantando na Chuva. As<br />
músicas cantadas por esses artistas, com versão para o português,<br />
tornaram-se, muitas <strong>de</strong>las, obrigatórias nas noites <strong>de</strong> luar inspiradoras dos<br />
amantes meio boêmios ou mesmo boêmios da cida<strong>de</strong>.<br />
Nossa condição social e <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> formação<br />
militar, ca<strong>de</strong>tes que éramos, obrigava-nos ao mais rigoroso recato. Tudo<br />
era e havia <strong>de</strong> ser feito na maior moita, como se diz hoje. Bem diferente<br />
da rapaziada <strong>de</strong> Humberto Werneck. As leis, os regulamentos e a vocação<br />
para o quartel nos obrigavam a um procedimento condizente com a<br />
carreira que pretendíamos abraçar. Havia, naquele tempo, um forte rigor<br />
disciplinar e uma exemplar noção do cumprimento do <strong>de</strong>ver por parte dos<br />
homens que compunham os quadros da nossa germânica corporação.<br />
Exigências éticas e morais, sem <strong>de</strong>scurar da disciplina, eram, como ainda<br />
<strong>de</strong>vem ser hoje, a essência da boa formação militar.<br />
Havia as rodas <strong>de</strong> chope no Bar Alemão, na Rua Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
quase esquina da Avenida Amazonas, fechado por causa da II Guerra<br />
Revista Volume LI.p65 115<br />
12/5/2009, 15:29