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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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104<br />

Como Gina houvesse concor<strong>da</strong>do com a “consulta”, dr. Victor pe<strong>de</strong>-lhe<br />

que respon<strong>da</strong> algumas perguntas. Sua primeira interrogação é assim<br />

formula<strong>da</strong>: “Mas esta sua liber<strong>da</strong><strong>de</strong>... on<strong>de</strong> a adquiriu?” (CARDOSO, s/d:52) e<br />

prossegue afirmando perceber que a esposa do amigo “se dá realmente uma<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> que muito poucos possuem” e lhe pergunta se isso não a amedronta.<br />

Gina confirma que, às vezes, ela lhe parece excessiva, mas isso não seria tudo<br />

o que existe? E o médico respon<strong>de</strong> com outra interrogação muito pouco<br />

científica:<br />

Talvez haja mais alguma coisa. Não acredita em Deus [?]<br />

(CARDOSO, s/d:53)<br />

As falas do médico sugerem que a “doença” <strong>de</strong> Gina está liga<strong>da</strong> à<br />

“liber<strong>da</strong><strong>de</strong>” que ela se conce<strong>de</strong>. Ain<strong>da</strong> no palco, prossegue o diálogo e como a<br />

mulher afirma não acreditar em na<strong>da</strong> e questiona quem <strong>de</strong>termina quais limites<br />

não po<strong>de</strong>m ser ultrapassados, dr. Victor reconhece que ela não precisa <strong>de</strong> um<br />

médico, mas <strong>de</strong> um padre.<br />

Um padre não conseguiria remover a solidão que me <strong>de</strong>vora. Por isto<br />

é que eu faço o que quero. O fato <strong>de</strong> ser tão livre me embriaga – e<br />

po<strong>de</strong> acreditar, não me <strong>de</strong>sfarei tão <strong>de</strong>pressa assim dos meus<br />

direitos. (CARDOSO, s/d:54)<br />

O médico, então, questiona se essa liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que fala Gina é “uma<br />

conseqüência lógica <strong>da</strong> sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, ou um estado mais ou menos<br />

permanente”, ao que ela respon<strong>de</strong>:<br />

(COMO QUE REMEMORANDO) Não sei ao certo como respon<strong>de</strong>r.<br />

Comecei a sentir-me livre no dia em que percebi que existia. E tudo<br />

passou a doer <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim como se fosse uma gran<strong>de</strong> chaga<br />

aberta. (CARDOSO, s/d:55)<br />

As palavras transcritas lembram os postulados do Existencialismo “ateu”<br />

a que se filiam, <strong>por</strong> exemplo, Sartre e Camus. Esses pensadores,<br />

contem<strong>por</strong>âneos <strong>de</strong> <strong>Lúcio</strong>, como ele testemunharam o fracasso dos gran<strong>de</strong>s<br />

i<strong>de</strong>ais humanitários, do conceito positivista <strong>de</strong> “Or<strong>de</strong>m, Progresso e Amor”, <strong>da</strong><br />

impotência <strong>da</strong> Técnica e <strong>da</strong> Ciência mas, diferente do Autor mineiro, rejeitaram<br />

a idéia <strong>de</strong> um Deus que justificaria e <strong>da</strong>ria sentido à existência humana. Como<br />

se sabe, para eles, o mundo não tem sentido algum, é gratuito como gratuita é

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