13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

em que vive, <strong>de</strong> superar a insatisfação que lhe trazem o cotidiano e os sonhos<br />

irrealizados.<br />

120<br />

Tal como Manassés ouvira do Pai que a lei era não abandonar a casa,<br />

ela escuta do peregrino que esse é o <strong>de</strong>stino que Deus lhe <strong>de</strong>u e que <strong>de</strong>ve<br />

acreditar n’Ele e louvá-lO sobre to<strong>da</strong>s as coisas. É o mesmo estímulo à<br />

aceitação que tanto irrita Assur e que muito a angustia, agora reforçado pela<br />

evocação à autori<strong>da</strong><strong>de</strong> divina. Essa será uma característica <strong>de</strong>ste drama: as<br />

referências religiosas serão trazi<strong>da</strong>s à cena com a função <strong>de</strong> ratificar o status<br />

quo e <strong>de</strong> sufocar as rebeldias.<br />

No segundo ato, jantam os familiares e comenta-se a ausência <strong>de</strong> Moab,<br />

que não aparece há três dias. O Pai, no entanto, não se preocupa <strong>por</strong>que não<br />

acredita que o filho mais novo (diferente <strong>da</strong> parábola, que só menciona dois,<br />

essa família se compõe <strong>de</strong> três filhos e uma filha) ultrapasse os limites <strong>de</strong> suas<br />

terras. Assur se irrita e questiona se ninguém teria coragem <strong>de</strong> ultrapassá-los:<br />

Filho nascido <strong>da</strong> minha carne, não. Por isso lhes <strong>de</strong>i nomes, e<br />

chamei a um fiel, a outro humil<strong>de</strong> e ao mais velho, forte. Como iriam<br />

trazer algum <strong>de</strong>sengano à minha triste i<strong>da</strong><strong>de</strong>? (NASCIMENTO, 1961:<br />

43)<br />

Diante <strong>da</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> (e <strong>da</strong> chantagem) paterna, Assur, <strong>de</strong>sanimado, ain<strong>da</strong> diz<br />

que “dia virá em que será preciso que um <strong>de</strong> nós faça alguma coisa...”. O Pai<br />

lhe respon<strong>de</strong> que, quando esse dia chegar, que voltem sempre “pois aqui é<br />

como a se<strong>de</strong>, o ponto on<strong>de</strong> a mão <strong>de</strong> Deus nos cravou como raízes.”<br />

(NASCIMENTO, 1961: 43). E acrescenta que, caso um dos filhos se per<strong>de</strong>sse,<br />

ele o esperaria dia e noite na varan<strong>da</strong> son<strong>da</strong>ndo ca<strong>da</strong> viajante que passasse.<br />

Manassés, irritado com Assur, pergunta ao Pai <strong>por</strong>que não permite que<br />

o irmão parta. Afinal “Ele não trabalha, e <strong>por</strong>tanto não ficaríamos menos pobres<br />

com a sua ausência” (NASCIMENTO, 1961: 44). A irritação <strong>de</strong>le com o irmão<br />

não tar<strong>da</strong> a revelar sua causa: Manassés, enciumado, atribui a Assur a<br />

responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelas mu<strong>da</strong>nças que percebe no coração <strong>da</strong> esposa.<br />

O Pai intervém na discussão proibindo Assur <strong>de</strong> prosseguir no assunto e<br />

Moab chega. Ele conta que viajou até os limites <strong>da</strong>s terras <strong>da</strong> família levado<br />

<strong>por</strong> um nobre rico em troca <strong>da</strong> música que tocava. O homem, que apreciou sua<br />

arte, <strong>de</strong>u-lhe um anel <strong>de</strong> safira e ofereceu-lhe emprego em sua casa “junto a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!