13.05.2013 Views

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

drama é “a forma poética do fato presente e intersubjetivo” (2004:91), ou seja,<br />

é uma peça que leva aos palcos um fato do momento presente <strong>de</strong>vendo ser<br />

resolvido através <strong>da</strong> relação intersubjetiva <strong>da</strong>s personagens que nele estão<br />

envolvidos. Por “relação intersubjetiva” <strong>de</strong>ve-se compreen<strong>de</strong>r “oposições que<br />

almejam sua superação” (SZONDI: 2001:108) a ser alcança<strong>da</strong> através do<br />

diálogo:<br />

142<br />

... a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> do drama é <strong>de</strong> origem dialética. Ela não se <strong>de</strong>senvolve<br />

graças à intervenção do eu-épico na obra, mas mediante a<br />

superação, sempre efetiva<strong>da</strong> e novamente <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>, <strong>da</strong> dialética<br />

intersubjetiva, que no diálogo se torna linguagem. Portanto, também<br />

nesse último aspecto o diálogo é o su<strong>por</strong>te do drama. Da<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do diálogo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do drama.<br />

(SZONDI, 2001:34)<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Szondi também <strong>de</strong>staca o caráter absoluto do drama, que<br />

exclui qualquer outra dimensão tem<strong>por</strong>al ou espacial além do “aqui” e do<br />

“agora” e que, só em situações excepcionais, admite recursos como o<br />

monólogo ou o aparte.<br />

Por esses motivos, o intimismo no palco é um problema: como <strong>da</strong>r<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>dramática</strong> a uma vi<strong>da</strong> essencialmente oculta? O drama, que se<br />

baseia na relação intersubjetiva, <strong>de</strong> repente se vê confinado à representação<br />

intrasubjetiva; sendo uma forma literária que prima pela abertura e franqueza<br />

dialógicas, vê-se constrangido a representar os acontecimentos velados <strong>da</strong><br />

interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> humana. Portanto, ao optar <strong>por</strong> levar aos palcos não um “fato do<br />

momento presente” mas os conflitos interiores <strong>de</strong> almas atormenta<strong>da</strong>s <strong>por</strong><br />

situações cujas raízes estão no passado, <strong>Lúcio</strong> infringiu várias premissas do<br />

drama.<br />

Em primeiro lugar, interessa ao dramaturgo muito mais o conflito interno<br />

<strong>da</strong> personagem do que as ações que ela <strong>de</strong>senvolve – e, nesse sentido, não<br />

“acontecerá” quase na<strong>da</strong> na peça. Tome-se, <strong>por</strong> exemplo, O Filho Pródigo.<br />

Interessa ao dramaturgo a angústia em que vivem Assur e Aíla. Não se mostra,<br />

em cena, <strong>por</strong> que motivo o Pai os con<strong>de</strong>na àquela reclusão, nem <strong>por</strong> que Aíla<br />

foi <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> àquela vi<strong>da</strong>; também não se mostram os anos que Assur passou<br />

fora, como enriqueceu, o que viveu <strong>por</strong>que só interessam a inveja e o rancor,<br />

calcados na humilhação, que sua volta <strong>de</strong>sperta em Manassés; e, ain<strong>da</strong>, não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!