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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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(...)<br />

SENHOR: Mas eu não acredito que ele tenha uma letra bonita.<br />

MARIA: Não acredita?<br />

SENHOR: Não! Só vendo...<br />

MARIA: Pois vai ver! (Sai. SENHOR dobra os <strong>de</strong>senhos, guar<strong>da</strong>-os<br />

no bolso e tampa o canudo. Volta à <strong>por</strong>ta para espreitar. MARIA volta<br />

com um maço <strong>de</strong> papéis) Olha aqui! O senhor viu uma letra mais<br />

bonita? (CAMARGO, 1967:38-39)<br />

Quando o marido chega em casa, Maria lhe conta tudo, feliz <strong>por</strong>que vai<br />

ser milionária também. Ele percebe todo o engano e, ao tentar reaver o que lhe<br />

pertencia, é preso acusado <strong>de</strong> roubo. Maria enlouquece, foge do sanatório e,<br />

segundo seu ex-marido, “Dizem que an<strong>da</strong> pelas ruas a divertir os moleques.”<br />

(CAMARGO, 1967:44) Como se po<strong>de</strong> observar, to<strong>da</strong> trama é força<strong>da</strong> e os<br />

personagens, tão rudimentares, não convencem.<br />

Saindo do flashback e voltando ao cenário primeiro, Mendigo conta que<br />

mora com uma moça muito mais nova, Nancy, e que está esperando que ela<br />

envelheça para ficar com ele. Ela tem outro preten<strong>de</strong>nte, Péricles, que é jovem,<br />

que a <strong>de</strong>seja e po<strong>de</strong>ria ser correspondido, mas é pobre. E Nancy foi<br />

convenci<strong>da</strong> pelo Mendigo que ela <strong>de</strong>ve amar apenas a si mesma e viver uma<br />

vi<strong>da</strong> boa – aquela que ele lhe po<strong>de</strong> pro<strong>por</strong>cionar:<br />

MENDIGO: A felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>la está comigo. Convenci-a <strong>de</strong> que a<br />

felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>la está no dinheiro, <strong>por</strong>que dinheiro é que não me falta.<br />

Os homens <strong>de</strong>vem conduzir os <strong>de</strong>sejos <strong>da</strong> mulher para tudo o que<br />

eles possam <strong>da</strong>r. Um poeta faminto é feliz com a mulher <strong>por</strong>que a<br />

convenceu <strong>de</strong> que a suprema felici<strong>da</strong><strong>de</strong> está na miséria. A mulher só<br />

<strong>de</strong>seja o que o homem lhe sugere.<br />

Percebendo que Péricles corteja Nancy, Mendigo dá atenção ao rapaz,<br />

finge acreditar no que ele diz e empresta-lhe dinheiro para, mais tar<strong>de</strong>,<br />

manipulá-los ain<strong>da</strong> uma vez. E é assim que ele vive: não tem um pensamento<br />

carinhoso ou <strong>de</strong> mágoa para a primeira mulher, <strong>de</strong>spreza a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e parece<br />

alcançar satisfação nos intrincados jogos <strong>de</strong> raciocínio que traça para que<br />

Nancy fique a seu lado. Se Maria é apresenta<strong>da</strong> como uma tola, Nancy é um<br />

“objeto” a ser envelhecido para atendê-lo:<br />

MENDIGO: O senhor está muito atrasado! Na Europa, fabricam-se<br />

objetos antigos com a mesma perfeição com que o Tempo prepara<br />

as mais preciosas rari<strong>da</strong><strong>de</strong>s!<br />

OUTRO: Mas são objetos...<br />

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