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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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Já Oduvaldo Vianna, em seu Amor, também investiu num afastamento<br />

do paradigma tradicional ao imaginar um palco dividido em cinco espaços<br />

cênicos. Em um <strong>de</strong>les, a personagem “Tempo”, folheando um calendário,<br />

anunciava a passagem dos dias. Como se vê, é a introdução <strong>de</strong> um elemento<br />

épico 69 que, <strong>da</strong> maneira como foi feito, marcava uma novi<strong>da</strong><strong>de</strong> na produção<br />

<strong>dramática</strong> <strong>de</strong> então.<br />

A <strong>de</strong>speito disso, a história <strong>de</strong> Lainha, Artur e Ma<strong>da</strong>lena, que serve <strong>de</strong><br />

espetáculo para Belzebu e São Pedro, envolvia artimanhas típicas <strong>de</strong><br />

melodramas: enganos, amor interdito pelo <strong>de</strong>ver, cartas rouba<strong>da</strong>s, chantagem<br />

e boa dose <strong>de</strong> sentimentali<strong>da</strong><strong>de</strong> na renúncia, no suicídio <strong>de</strong> Ma<strong>da</strong>lena e <strong>de</strong><br />

Artur e no assassinato <strong>de</strong> Lainha e Catão. A obra, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua<br />

possível <strong>de</strong>fesa do divórcio, <strong>de</strong>volvia ao público uma linguagem a que ele já<br />

estava mais do que acostumado e na qual diluía um tema certamente<br />

polêmico.<br />

Pior ain<strong>da</strong> foi a produção <strong>de</strong> Renato Vianna representa<strong>da</strong> <strong>por</strong> Deus e<br />

Sexo, peças que pretendiam integrar o teatro sério (as <strong>de</strong>mais, a <strong>de</strong>speito <strong>da</strong><br />

possível reflexão que <strong>de</strong>spertassem, recorriam a situações provocadoras do<br />

riso). Ambas po<strong>de</strong>riam ser classifica<strong>da</strong>s como melodramas inspirados em<br />

folhetins românticos, repletas <strong>de</strong> sentimentali<strong>da</strong><strong>de</strong> e lágrimas, anima<strong>da</strong>s <strong>por</strong><br />

personagens que incor<strong>por</strong>avam virtu<strong>de</strong>s e vícios quase sem nenhum matiz.<br />

Aliás, essa insistência do nosso teatro <strong>de</strong> então quanto à<br />

sentimentali<strong>da</strong><strong>de</strong> merece duas linhas <strong>de</strong> reflexão. Segundo Peter Szondi, em<br />

Teoria do drama burguês, a sentimentali<strong>da</strong><strong>de</strong> marca o drama burguês <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

seu início, no século XVIII, e po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como:<br />

... a expressão do tabu em que se transforma todo o conflito entre os<br />

membros <strong>de</strong> uma família. O conflito é negado pois ca<strong>da</strong> um está<br />

convencido <strong>da</strong> bon<strong>da</strong><strong>de</strong> do outro. Mas a recusa do conflito significa<br />

somente sua passagem para o íntimo do sujeito. (...) A conseqüência<br />

é sofrimento, melancolia (...) a razão e a conseqüência <strong>da</strong> renúncia à<br />

<strong>de</strong>cisão do conflito levam àquela plangência que caracteriza o estilo<br />

sentimentalista. (SZONDI, 2004:90)<br />

69 Utilizo aqui o termo no mesmo sentido já empregado <strong>por</strong> SZONDI em sua Teoria do drama mo<strong>de</strong>rno<br />

(2001): “ele <strong>de</strong>signa um traço estrutural comum <strong>da</strong> epopéia, do conto, do romance e <strong>de</strong> outros gêneros,<br />

ou seja a presença do que se tem <strong>de</strong>nominado o ‘sujeito <strong>da</strong> forma épica’ ou ‘euépico’”(SZONDI:2001:27).

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