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Dramas da clausura: a literatura dramática de Lúcio Cardoso por ...

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(...) Sempre que Gina se inclina sobre mim, sinto que vem <strong>da</strong> sua<br />

alma um sopro <strong>de</strong>sconhecido... uma febre... um <strong>de</strong>sejo...<br />

(CARDOSO, s/d:13)<br />

Renato volta à reflexão <strong>de</strong> que, talvez, Gina sempre tenha sido assim.<br />

Lembra-se <strong>de</strong> que, mesmo antes <strong>de</strong> se casar, ela tinha “esse mesmo humor<br />

brusco” (CARDOSO, s/d:14), mas que agora parece exagerado: “Acho sua<br />

alegria estranha, bem como a sua tristeza. Dir-se-ia que ela não sabe mais<br />

conter os sentimentos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> certos limites.” (CARDOSO, s/d:14).<br />

Embora compa<strong>de</strong>cido do sofrimento do amigo, dr. Victor afirma a<br />

impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> traçar qualquer diagnóstico <strong>de</strong> Gina com base nas<br />

“suspeitas” <strong>de</strong> Renato. Propõe-se a examiná-la, mas o marido recua <strong>por</strong>que<br />

sabe que a esposa não concor<strong>da</strong>ria e teme sua reação. O médico, vendo que é<br />

inútil insistir, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se e parte.<br />

A mulher, que Renato ouvira acor<strong>da</strong>r um pouco antes, <strong>de</strong>sce as<br />

esca<strong>da</strong>s. A rubrica informa que ela está “vesti<strong>da</strong> com um longo ‘<strong>de</strong>shabillé’<br />

negro” e que “a cor do vestido acentua-lhe a extrema pali<strong>de</strong>z. Seus olhos<br />

dilatados são ro<strong>de</strong>ados <strong>de</strong> escuro.” (CARDOSO, s/d:19) Diante <strong>da</strong>s queixas <strong>de</strong><br />

palpitações e dores <strong>de</strong> cabeça, Renato aproveita para sugerir-lhe que consulte<br />

um médico, o que provoca uma discussão acalora<strong>da</strong> entre eles.<br />

Nesse momento, é possível compreen<strong>de</strong>r <strong>por</strong> que Sérgio Brito elogia o<br />

final do primeiro ato, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter feito restrições aos diálogos anteriores: a<br />

partir <strong>de</strong> agora, no embate entre marido e mulher, ficarão <strong>de</strong>linea<strong>da</strong>s as<br />

contradições <strong>de</strong> Gina e a perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Renato <strong>de</strong> forma direta, sem<br />

intermediários, e o ato parece ganhar o fôlego que a estrutura <strong>dramática</strong> exige.<br />

Gina, ante a sugestão, afirma que todos estão contra ela, que ele a quer<br />

enganar, que não merece a menor confiança: “Mas se esquece <strong>de</strong> que estou<br />

sempre atenta a (sic) acompanho o menor dos seus gestos” (CARDOSO,<br />

s/d:21). Conta-lhe que o espiava do alto <strong>da</strong> esca<strong>da</strong> e que viu quando o médico<br />

<strong>de</strong>ixou a casa (e não um colega <strong>de</strong> trabalho, como Renato afirmara no <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> ocultar a visita). E que, apesar <strong>de</strong> não ter ouvido o que diziam, sabia que<br />

tramavam contra ela. No auge <strong>da</strong> exasperação, exclama:<br />

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